domingo, 6 de dezembro de 2009

O Clube do Filme

David Gilmour foi crítico de cinema, apresentador de talk-shows na TV canadense e escritor. A certa altura de sua vida, com dificuldades de conseguir emprego e um filho de 15 anos sendo reprovado seguidamente no colégio, pai e filho fazem um pacto: Jesse poderia abandonar a escola, não precisaria trabalhar nem pagar aluguel, desde que se comprometesse a ver 3 filmes, escolhidos pelo pai, a cada semana. Se possível, conversariam depois sobre o filme e suas relações com a vida dos dois.

A história deste relacionamento está no livro O Clube do Filme, escrito pelo pai após quase três anos nesta experiência. Durante este tempo, o filho cresceu, passou por crises amorosas, usou drogas e... assistiu a filmes. O pai, David, se perguntou todo este tempo se havia tomado a decisão correta ou se estaria prejudicando irremediavelmente Jesse, retirando dele o que é considerado quase que universalmente o bem maior que se pode dar a um filho: a educação. A dúvida procede: é óbvio que boa parte dos "aborrescentes", se questionados quanto à escola, prefeririam ficar em casa, coçando suas partes não-públicas-mas-púbicas, vendo TV e navegando na internet (a bem da verdade, é provável que a maioria dos adultos também respondesse isso com relação a seus empregos...); entretanto, uma coisa é um garoto de 15 anos querer algo, outra completamente diferente é um adulto responsável por ele deixá-lo ter o que quer.

David foi ousado, e deixou seu filho em casa, com a esperança de que, no futuro, ele próprio retornaria à escola (o que efetivamente aconteceu). Outra decisão positiva do pai foi apresentar a Jesse filmes de todos os gêneros e qualidades: dramas, comédias, terror, desde cults europeus até a pior trasheira hollywoodiana. Isto permitiu que o filho se identificasse mais com as sessões, sem que estas se tornassem aulas em pele de DVD.

Mas se a filmografia e a relação pai-fillho são os pontos altos desse livro, há vários pontos-baixos. Muitos trechos parecem estar lá apenas para a auto-afirmação do autor, o qual, diga-se de passagem, acaba sendo o foco do livro ao invés do relacionamento entre ele e o filho; é a volta do velho narcisismo, tocado num post anterior. Não poucas vezes me peguei pensando: tá, mas não quero saber de você, quero saber dos filmes e dos papos que você teve com seu filho. Parece que até Jesse fica de saco cheio do pai depois de um tempo; um crítico mais ácido escreveu: "pra parar aquela chatura paterna vale tudo, até trabalhar como lavador de pratos ou, suprema desdita, voltar a estudar".

Além disso, em muitas passagens parece que o autor de 50 anos é mais "aborrescente" que seu filho adolescente. Quando Jesse perde uma namorada e chapa o coco até baixar hospital, o pai pensa: "Ele vai morrer disso!". Que é isso, rapaz? Parece que David nunca foi adolescente: nessa época, tudo é difícil, importante, fundamental mesmo, e qualquer revés na vida é o fim do mundo (tem um filme que não estava na filmografia de Gilmour, Donnie Darko, que traz uma fantástica metáfora do que é a adolescência; talvez o autor devesse vê-lo...). Não vai morrer não, vai só chapar mais ainda e depois passa.

Enfim, o livro tem altos e baixos. Vale a leitura, mas achei que seria melhor.

E... não, Gabriel, nem peça para montarmos nosso próprio Clube do Filme que não vai rolar...

2 comentários:

  1. Hahaha. Arriscou contando sobre este livro para o filho. Comunico que começei a ler Valis do Philip Dick e tive que parar. Muito pesado e deprimido para esta fase da minha vida. pego de novo daqui a dois anos.
    abraços

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  2. Brou... minha internet é uma merda. Essa é a 3a vez que tento resonder (garanto que as 2 anteriores foram mais espertas [OU NÃO!]) Valis é foda, o final é pior (fuma um pra acompanhar) e, pior: é o início de uma trilogia.
    Acho que vc vai ter muito o que comentar do texto seguinte do blog: Crítica da Apresentação: "Natura y Cultura" http://bit.ly/8ruFsE
    abracos e saudades

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