quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Livro: "Monstros Invisíveis", de Chuck Palahniuk

Chuck Palahniuk é o autor do livro que deu origem ao filme "Clube da Luta", um de meus preferidos. Eu já tinha lido outro livro dele ("Assombro"), meio irregular, em que as histórias de vários personagens eram amarradas em um fio condutor que ironiza e leva ao extremo o mundo dos Reality Shows. Como algumas das histórias são muito boas (a ponto de eu ter incorporado - opa! - a expressão "uma cenoura na família", do primeiro dos contos, em meu repertório) resolvi arriscar mais um livro dele.

Na real, eu estava viajando a Campinas, por conta do doutorado, e já estava lendo um bom livro; mas meu estado de espírito estava mais na linha de Tyler Durden: I felt like destroying something beautiful. Então, entrei na FNAC e pedi o último Palahniuk...

Bom, tenho pouco a falar sobre o livro: não recomendo, não. A crítica desta vez se volta ao glamour do mundo da moda, por meio de uma protagonista que perdeu todo o maxilar ao levar um tiro. Drogas legais, esquemas, transexuais, tudo bastante exagerado, a ponto de ficar meio bobo algumas vezes. No fundo, mais importante que a história enrolada é o modo como o autor conta os acontecimentos, sendo possível perceber a estrutura narrativa semelhante à do Clube da Luta: o autor é fácil de se levar às telas, pelo modo como escreve, apesar de meio complicado pelos temas. Acho melhor ficar com o filme do Fincher, ao qual sempre voltei cada vez que I felt like putting a bullet between the eyes of every Panda that wouldn't screw to save its species. I wanted to open the dump valves on oil tankers and smother all the French beaches I'd never see. I wanted to breathe smoke.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Série: Lost

Eu tinha me prometido escrever sobre Lost somente depois de encerrada a série, para evitar os malfadados spoilers. Mas não deu para esperar; faltam 100 dias para Lost acabar e o início da 6a temporada só me fez confirmar a opinião de que esta é uma das melhores produções para a televisão já realizadas. Além de outros fatores (como a narrativa - geralmente - boa), creio que a ousadia dos produtores é em grande parte responsável pelo nosso fanatismo (fanatismo sim, a ponto de não conseguirmos esperar uma mísera semana para ver na AXN, TEMOS que baixar assim que sai nos EUA). Até para falar disso, já vou cair em spoilers; portanto, quem não está acompanhando a 6a temporada, pare aqui ou prossiga por sua própria conta e risco (Val, estou guardando os episódios para você, só leia o resto depois de vê-los).
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Bom, em primeiro lugar, o gênero. O suspense da 1a temporada foi dando lugar, paulatinamente, à ficção científica, passando por temas canônicos do gênero como a viagem no tempo e culminando agora com realidades paralelas. A estrutura narrativa reflete os temas abordados: inicialmente, tínhamos os flashbacks, construindo personalidades e relações prévias entre as personagens; no final da 3a temporada, recebemos o presente dos flashforwards, nos indicando o que aconteceria no pós-ilha e nos preparando para as viagens no tempo. Na 5a temporada, quando os saltos no tempo passam a acontecer, e o grupo se separa em "tempos" diferentes, os flashbacks são quase totalmente substituídos pelas narrativas assincrônicas - flashtimes. E agora, com a criação de um universo paralelo em que o avião não cai, temos o recurso dos flashsideways, passados em realidades diferentes em 2004 e 2007. Em resumo, a gente não se cansa com a narrativa, pois ela muda a cada mudança de estrutura do tema.

Ok, mas a forma não seria suficiente se o conteúdo não prestasse. E presta. E muito! É claro que houve certas irregularidades: a 3a temporada, com a greve dos roteiristas, me parece ter sido a mais prejudicada em seu início, mas nada que comprometesse. 

As viagens no tempo começaram a ser abordadas na 3a temporada (Season 3, Episode 07, s03e07 - Not in Portland). Sutilmente, com o personagem Aldo (que reaparece na s06 só pra tomar um balaço) lendo "Uma Breve História do Tempo", de Stephen Hawkings e depois, na Sala 23 (em que Karl está passando por uma lavagem cerebral a la Laranja Mecânica), onde uma voz gravada ao contrário diz "Only fools are enslaved by time and space": os tolos somos nós... Logo no episódio seguinte, s03e08 - Flashes Before Your Eyes (na minha lista de "Top 5 para entender Lost") Desmond "salta" no tempo, como seus amigos farão na 5a temporada. No final deste post, quando colocarei minha teoria sobre o que vai acontecer, volto a falar sobre este episódio, sobre o papel de Desmond e sobre o que a Sra. Hawking ensina para ele.

Mas foi em s04e05 - The Constant que o tema entrou de forma conclusiva na trama. Lembro de minha reação quando Faraday diz para Desmond encontrá-lo em Oxford em 1996 (De Volta para o Futuro???): gritei um PQP sozinho na sala, comemorando porque a série entrava de vez para o cânone da fc. Daí pros saltos no tempo foi um pulo (trocadilho péssimo). Confesso que até aí minha teoria era de um loop simples no tempo: eles chegaram na ilha e deveriam ficar nela, rodando no tempo até fazerem algo, talvez mudarem seu comportamento para alterar uma das variáveis da Equação de Valenzetti.

Digo que os produtores foram ousados porque não deveria ser fácil fazer os personagens saltarem no tempo (ainda mais, em grupos separados) sem que isso confundisse os telespectadores. Mas eles arriscaram, e construíram a narrativa de forma tão amarrada que as pessoas não se perderam (é claro que às vezes esquecíamos quem estava quando, mas no geral foi tranqüilo). A série tratou os fãs como gente grande. 

Vamos falar agora do que está pegando mesmo na série: universos paralelos. Li em algum lugar - mas não consegui encontrar o vídeo - que nos extras da 5a temporada há uma cena deletada de Faraday explicando o mecanismo de auto-correção do tempo, e sua idéia de explodir a bomba. Segundo a descrição, imagine o tempo como um filete de água correndo. Se você jogar uma semente neste riacho, o fluxo é perturbado muito levemente, mas volta rapidamente a correr da mesma maneira que antes. Agora, se você atirar uma pedra (ou uma bomba nuclear, hehe) você pode até repartir o filete em dois. Creio que foi isso que aconteceu, criando as realidades paralelas. Resta a pergunta: os dois "filetes d'água" irão se reencontrar? 

Construí minha teoria com base num post de meu amigo Shmoo no The Fuselage (Shmoo, me passa o  endereço do thread para eu postar aqui!! já está no link acima). Resumindo, em s03e03 - Further Instructions, Locke tem uma visão com os personagens no aeroporto de Sidney, prestes a embarcar. Desmond - que não estava no vôo, neste universo - estava vestido de piloto. Bem, por que piloto? Ora, ele deve guiar, de alguma maneira, os sobreviventes. E por que Desmond? Bem, em s03e08 - Flashes Before Your Eyes a Sra. Hawkings ensina a Desmond uma regra da viagem no tempo (para trás): não se pode mudar o presente mudando o passado. Segundo ela, o universo tem um mecanismo de "auto-correção", o que significa que mesmo que você mude algum fato no passado, este fato acontecerá, mesmo que de modo ligeiramente diferente. Foi o que vimos no final de toda esta temporada, com Desmond tentando salvar Charlie mas, finalmente, não conseguindo em s03e22 - Through the Looking Glass.

Ainda sobre o episódio de Desmond, podemos ver rapidamente as pedras - branca e preta - que representam a dualidade na ilha, Jacob e anti-Jacob (e que já tinham sido vistas antes no bolso de Adão e Eva, em s01e06 - The House of the Rising Sun, e nos olhos de Locke no sonho de Claire em s01e10 - Raised by Another), sobre uma mesinha na primeira volta no tempo de Desmond. Isto indica que ele tem papel fundamental neste balanço de poder, assim como Locke. Aliás, outro dia vi alguém citando as pedras no episódio de Desmond no fórum The Fuselage, mas eu tinha visto antes, anos atrás (quando a teoria é dos outros eu falo; como a descoberta foi minha, vou me gabar ;-) ). 

Mas tem o seguinte: como explicou Faraday (talvez no já citado s04e05 - The Constant, mas não consegui me lembrar nem descobrir a referência), Desmond é a única pessoa que é capaz de mudar o futuro! Foi o que ele conseguiu fazer neste episódio, mudando sua lembrança e guardando o número de telefone para ligar para Penny. Lembro que Faraday mudou de idéia em s05e14 - The Variable, achando que o livre arbítrio das pessoas - e uma bomba atômica - pode mudar o futuro, mas o que aconteceu, no final das constas, foi sua morte, que já estava programada (a mãe lembrava de ter atirado nele no passado). 

Vi no Fuselage muita gente reclamando dos flashsideways, dizendo que esta linha narrativa não interessa em nada, é só pra gastar tempo. Discordo. É muito difícil imaginar como as linhas narrativas paralelas (em 2004 e 2007) possam se juntar, mas levando em consideração o mecanismo de auto-correção do universo, creio que é exatamente isso que vai acontecer. Com ilha ou sem ilha (embaixo d'água), creio que os eventos das duas realidades irão convergir, os personagens estabelecerão novas relações (Kate e Claire já se aproximaram em s06e03 - What Kate Does) e, eventualmente, os fatos das duas linhas irão convergir para um mesmo resultado comum.

Renato Frigo, na Lista do CLFC, perguntou: "como a ilha afundou, o Widmore morreu naquela explosão e com isso não teremos na versão atual de 2007 o Widmore tentando entrar na ilha...n em a Penny existe mais... logo o Desmond estaria no avião porque?" Minha resposta, então, é: para "pilotar" os personagens deste universo alternativo de 2004, alterando seu futuro (ele é o único que pode!) e levando-os a uma situação semelhante aos seus alter-egos da ilha em 2007. 

Por que Desmond sumiu do avião, em s06e02 - LA X 2? Como os universos paralelos irão colapsar? Vamos saber em 100 dias.
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