tag:blogger.com,1999:blog-19224053188211436982024-03-05T04:27:59.427-03:00As Faces do Tesseract"Foi ponto, segmento, quadrado, cubo.
Percebeu que era também tesseract e que poderia ser mais.<br>
Deixou de ser objeto em três dimensões para sê-lo em quatro: para tanto, teve que ser infinito em três.<br><br>
Seu cérebro não podia (nenhum cérebro podia) dar conta disso, de uma infinitude de percepções,<br>
pensamentos, sensações, raciocínios. Ser objeto em quatro dimensões fez seu ser conter infinitos, mundos,<br>
universos de três.<br><br>
E, obviamente, colapsar."Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.comBlogger27125tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-33499003941648728542010-05-28T16:34:00.000-03:002010-05-28T16:35:58.287-03:00"Estado do São Francisco: uma abordagem Político-Econômica", por Márcio Carvalho<div style="text-align: justify;">Nesta última terça-feira, dia 25 de maio, participei de uma mesa-redonda intitulada "A criação do estado do São Francisco: vínculos históricos e interpretações". Participaram comigo a Professora Ignez Pitta e o senhor João Alfredo dos Santos, do Jornal do São Francisco; a mesa foi mediada pelo Prof. Paulo Baqueiro (o da UFBA).<br /><br />Publico, logo abaixo, minha apresentação naquela oportunidade: "Estado do Rio São Francisco: uma abordagem Político-Econômica". Mas gostaria de fazer as mesmas ressalvas que fiz durante a apresentação.<br /><br />Em primeiro lugar, é preciso lembrar que há outras dimensões a serem analisadas além da política e da economia quando pensamos na emancipação de uma região: são de fundamental importância as dimensões identitárias, geográficas e históricas. Mas, nesta apresentação, analiso apenas uma parte (a questão de arrecadação e repasse de recursos) da política-econômica do estado.<br /><br />Além disso, o foco da apresentação foi analisar a afirmação, tão ouvida pelo povo da região, que o oeste baiano é abandonado, esquecido pelo Governo do estado (e, em menor medida, pelo Governo Federal). Para tanto, fiz um levantamento da arrecadação de tributos estaduais pelos 35 Municípios da região, e comparei com os repasses do Governo do estado aos Municípios. Compilei também os repasses na União aos Municípios daqui. Os resultados são, para dizer o mínimo, interessantes, nos fazendo pensar que o problema real é a gestão de recursos, e nem tanto sua quantidade.<br /><br />Os dados são de 2009; por uma questão de espaço, coloquei na tela apenas os valores relativos aos municípios de maior arrecadação, mas os totais apresentados sempre levam em conta os valores dos 35 municípios do que seria o Estado do São Francisco.<br /><br />Finalmente, gostaria de agradecer ao Colegiado do Curso de Geografia pelo convite: este tipo de evento tem que ocorrer com maior frequência, para qualificarmos cada vez mais o debate.<br /></div><br /><a title="View Estado Do Sao Francisco on Scribd" href="http://www.scribd.com/doc/32127672/Estado-Do-Sao-Francisco" style="margin: 12px auto 6px; font: 14px Helvetica,Arial,Sans-serif; display: block; text-decoration: underline;">Estado Do Sao Francisco</a> <object id="doc_574344479389967" name="doc_574344479389967" type="application/x-shockwave-flash" data="http://d1.scribdassets.com/ScribdViewer.swf" style="outline: medium none;" rel="media:presentation" resource="http://d1.scribdassets.com/ScribdViewer.swf?document_id=32127672&access_key=key-1obn2lda4bbidk7jrrrr&page=1&viewMode=slideshow" media="http://search.yahoo.com/searchmonkey/media/" dc="http://purl.org/dc/terms/" height="500" width="100%"> <param name="movie" value="http://d1.scribdassets.com/ScribdViewer.swf"> <param name="wmode" value="opaque"> <param name="bgcolor" value="#ffffff"> <param name="allowFullScreen" value="true"> <param name="allowScriptAccess" value="always"> <param name="FlashVars" value="document_id=32127672&access_key=key-1obn2lda4bbidk7jrrrr&page=1&viewMode=slideshow"> <embed id="doc_574344479389967" name="doc_574344479389967" src="http://d1.scribdassets.com/ScribdViewer.swf?document_id=32127672&access_key=key-1obn2lda4bbidk7jrrrr&page=1&viewMode=slideshow" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" wmode="opaque" bgcolor="#ffffff" height="500" width="100%"></embed> </object><br /><br /><div style="text-align: right;">Por Márcio Carvalho</div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-69504777966677623422010-05-19T10:11:00.010-03:002010-05-19T12:15:46.557-03:00Sobre a Política Formal em Barreiras - Parte II<div style="text-align: justify;">Voltando ao assunto (<a href="http://facesdotesseract.blogspot.com/2010/04/sobre-politica-formal-em-barreiras.html">iniciado num <span style="font-style: italic;">post</span> do mês passado</a>) de como nosso Legislativo Municipal tem tratado os assuntos de interesse da população, queria dar um exemplo do tipo de análise que nossos Vereadores poderiam realizar a respeito de certas contratações públicas.<br /><br />Para que o texto não fique muito longo, vou analisar apenas um dos contratos relativos ao fornecimento de lanches à Guarda Municipal no carnaval, no valor de R$129.600,00. Abaixo, segue o extrato do contrato, conforme publicado no <a href="http://www.barreiras.ba.gov.br/diario/pdf/diario1010.pdf">Diário Oficial de Barreiras de 12 de março de 2010</a>:<br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">EXTRATO DE CONTRATO</span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">CONTRATO Nº 020/2010</span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Contratante: PREFEITURA MUNICIPAL DE BARREIRAS</span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Contratado: JOAQUIM ALGUSTO VIANA CERQUEIRA – ME </span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Objeto do Contrato: contratação de empresa especializada visando o fornecimento de refeição para atender as necessidades da Guarda Municipal e contratação de empresa para fornecimento de lanches para o Carnaval 2010 deste Município de Barreiras. </span></span><br /><span style="font-size:85%;"><strong style="font-family: courier new;">Valor do Objeto: R$ 129.600.00</strong></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Modalidade: PREGÃO PRESENCIAL Nº 004/2010</span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;font-family:courier new;" >Unidade Orçamentária: 02.16.00 – FUNDO MUNICIPAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE</span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Atividade: 02.059– GESTAO DO FUNDO MUNICIPAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE</span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Despesa 3.3.90.30.00.00.00 – MATERIAL DE CONSUMO </span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Prazo da Vigência: 10/02/10 à 10/11/2010.</span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Data da Assinatura: 10 DE FEVEREIRO 2010</span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Fundamento Legal: Artigo 61, Parágrafo único da Lei 8.666/03.</span></span><br /><br />O item "Unidade Orçamentária" quer dizer o seguinte: a Prefeitura tem um certo orçamento ("dinheiro no bolso", por assim dizer) para gastar; mas só pode gastar este "dinheiro" para uma atividade específica. Por exemplo, se tenho um recurso, digamos, do Bolsa Família, não posso gastar comprando merenda para as escolas (ainda que esta seja uma atividade necessária e louvável).<br /><br />Note a Unidade Orçamentária (Fonte dos recursos) do contrato acima: Fundo Municipal da Criança e do Adolescente! Pergunta: qual a relação entre a atividade à qual se destinam recursos (Gestão do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente) e o objeto do contrato (refeição para Guarda Municipal)???<br /><br />Sei que vão dizer que sou chato, crí-crí, mas e quanto ao "Fundamento Legal" da contratação? Alguém sabe qual é o texto do Artigo 61 da <a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8666cons.htm">Lei de Licitações</a> (e seu Parágrafo Único)? Relembrando:<br /><span style=";font-family:courier new;font-size:85%;" >Art. 61. Todo contrato deve mencionar os nomes das partes e os de seus representantes, a finalidade, o ato que autorizou a sua lavratura, o número do processo da licitação, da dispensa ou da inexigibilidade, a sujeição dos contratantes às normas desta Lei e às cláusulas contratuais.</span><br /><span style=";font-family:courier new;font-size:85%;" >...</span><br /><span style=";font-family:courier new;font-size:85%;" >Parágrafo único. A publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na imprensa oficial, que é condição indispensável para sua eficácia, será providenciada pela Administração até o quinto dia útil do mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo de vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu valor, ainda que sem ônus, ressalvado o disposto no art. 26 desta Lei. <a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8883.htm#art65iid">(Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)</a></span><br /><br />Vamos tentar decifrar o Artigo. Ele afirma, simplesmente, que todo contrato deve ter um resumo publicado no Diário Oficial, e que este resumo deve conter o nome do contratado, a finalidade, etc.<br /><br />Muito bem, mas esta condição é <span style="font-style: italic;">necessária</span> (o contrato só vale se tiver o resumo publicado) mas <span style="font-style: italic;">não suficiente</span> (não é qualquer contrato publicado que vale). Voltando ao exemplo da merenda, eu não posso usar dinheiro do Bolsa Família para comprar merenda, ainda que publique o contrato no Diário Oficial.<br /><br />Quando a Prefeitura coloca como fundamento legal para estes contratos o Art. 61, Parágrafo único, da Lei 8.666/93, ela diz mais ou menos o seguinte: "Eu posso firmar este contrato porque a Lei diz que eu posso firmar <span style="font-style: italic;">qualquer</span> contrato, desde que publique. E eu estou publicando...". Só que isso não é verdade.<br /><br />Finalizando, ao invés de passar uma sessão inteira louvando a Prefeitura (neste caso, a Prefeita) pelo início das obras do saneamento básico na cidade (voltarei ao assunto, que foi o tema recorrente da Sessão da Câmara dos Vereadores de 11 de maio), os Vereadores deveriam trazer as demandas do público de maneira formal para o Plenário. Não adianta tratar o Plenário da Câmara como um simples local de desabafo, é necessário organizar as demandas da população, formalizando procedimentos, e efetivamente fiscalizando o funcionamento do Executivo. Neste caso específico, seria bastante simples enviar ofício à Prefeitura solicitando esclarecimentos: "Por que foram utilizados recursos do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente para comprar lanches para a Guarda Municipal?"<br /><br />Como desfecho desta história, a Prefeitura ouviu o clamor da população (mas não dos Vereadores, que, salvo engano, não quiseram se indispor com a atual Administração), e republicou o contrato no <a href="http://www.barreiras.ba.gov.br/diario/pdf/diario1022.pdf">Diário Oficial de 13 de abril</a>, corrigindo o objeto do contrato de<br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Contratação de empresa especializada visando o fornecimento de refeição para atender as necessidades da Guarda Municipal e contratação de empresa para fornecimento de lanches para o carnaval 2010 deste município de Barreiras.<br /><br /></span></span>para<br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Contratação de empresa especializada visando o fornecimento de lanches para atender as necessidades do PROJOVEM (Programa de Inclusão de Jovens) deste Município.</span></span><br /><br />A Prefeitura corrigiu o contrato, ou seja, admitiu que havia algo errado. A opinião pública tem conseguido reverter algumas situações na cidade (como a questão da Ponte da Prainha), e o envolvimento da Câmara de Vereadores traria mais força ainda à cidadania em Barreiras. Como? Dentre outras maneiras, acompanhando a execução destes recursos - agora corretamente destinados ao ProJovem -, bem como a reforma da Ponte da Prainha, problema que alguns vereadores afirmaram já estar sanado um mês atrás, e outros temas de interesse do povo.<br /><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">(Este texto é uma reprodução de </span></span><br /><span style="font-size: 85%;"><span style="font-style: italic;">meu post em </span><a style="font-style: italic;" href="http://oestemaquia.blogspot.com/">OesteMaquia</a><span style="font-style: italic;">)</span></span><br /></div></div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-64289341483515129672010-04-20T16:30:00.001-03:002010-04-21T16:41:37.718-03:00Sobre a Política Formal em Barreiras – Parte I<div style="text-align: justify;">Estava ouvindo a <a href="http://www.rb.am.br/">Rádio Barreiras</a> ontem pela manhã, e uma ouvinte ligou para o programa do Fernando Pop para reclamar de uma boca de lobo entupida, há mais de um mês, no bairro de Barreirinhas. A cidadã já havia ligado para a Prefeitura solicitando providências, mas algum funcionário municipal disse que não havia “material” (ele não soube dizer exatamente o quê) para realizar o conserto. Enquanto isso, na semana anterior, alguns professores e alunos da UFBA foram a uma sessão da Câmara dos Vereadores do Município e, de acordo com o relato de Márcio Lima (no <span style="font-style: italic;">post</span> <a href="http://oestemaquia.blogspot.com/2010/04/ainda-universidade-e-politica-por.html">“Ainda universidade e política”</a>) não havia expediente, não havia sobre o que deliberar no “plenário com 190 poltronas confortáveis” (como se lê no <a href="http://www.camaradebarreiras.ba.gov.br/index.php?id=camara">site da Câmara Municipal de Barreiras</a>).<br /><br />Sou só eu, ou vocês também acham que há um descompasso entre a Barreiras em que vivemos e a cidade que a Prefeitura e a Câmara Municipal governam? A ouvinte de Barreirinhas vive na mesma cidade tão arrumadinha que os Vereadores não têm o que fazer?<br /><br />Com esses casos em mente, fui (em companhia de alguns colegas professores) acompanhar uma sessão de nossa Câmara Municipal. Houve três votações: foram aprovados a alteração da composição do Conselho Municipal de Saúde (não foi explicada qual a alteração), um requerimento da vereadora Beza (que não foi lido em público) e um Projeto de Lei destinado a denominar o bairro que conhecemos como Prainha de... bem, <span style="font-style: italic;">Prainha</span>.<br /><br />Enquanto a palavra estava aberta aos Vereadores, ouvimos desde parabéns ao Exército por seu dia até uma digressão sobre como a caligrafia dos médicos pode ser prejudical aos pacientes; desde a informação de que 80% dos imóveis cadastrados (que serão quantos por cento do total?) não pagam seu IPTU até a reclamação de que a polícia multa condutores cometendo irregularidades, mas as ruas não têm faixas e placas; desde a opinião de que nunca, nenhuma instância do Executivo (Presidente, Governo Estadual, Prefeito [?], do presente ou do passado) fez nada por esta cidade, até dois elogios à Secretaria Municipal de Infraestrutura que já teria (tempo recorde!) consertado duas das pontes que levam Além-Grande - elogios que foram interrompidos pelo singelo "Não!" da Prof. Deborah, sentada numa das "poltronas confortáveis" do plenário. Parece que foi um dia cheio...<br /><br />Mas uma fala me chamou a atenção (especialmente porque eu já estava escrevendo esta postagem): Vereador Bispo Daniel afirmou que, infelizmente, as pessoas não conhecem as atribuições da Câmara Municipal, não sabem qual é a função dos Vereadores. Mesmo pessoas graduadas (nas palavras dele) desconhecem e, por este motivo, confundem as funções do Legislativo e do Executivo. O Vereador está coberto de razão. Este é um dos problemas de nossa Democracia: as pessoas não sabem e não vêem como ela funciona (em sua "copa e cozinha", por assim dizer). Se, por exemplo, as sessões da Câmara Municipal fossem à noite, mais cidadãos poderiam acompanhá-las... mas isso é assunto para outro <span style="font-style: italic;">post</span>.<br /><br />Podemos nos perguntar, nesse ponto, se arrumar uma boca de lobo é atribuição dos Vereadores; mais ainda, podemos nos perguntar quais são as atribuições de uma Câmara Municipal. Para termos a resposta, recorremos ao Capítulo IV da <a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm">Constituição Federal</a>, que dispõe sobre as atribuições dos Municípios. Ali se lê, no Artigo 31:<br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei.</span></span><br /><br />Começamos a entender: então, uma das atribuições da Câmara Municipal deve ser a “fiscalização” da atuação da Prefeitura (Poder Executivo). Quando o texto do artigo termina com “na forma da lei”, é sinal de que deve haver alguma legislação complementar à Constituição, e que deverá reger o modo com esta fiscalização se dará. Tal legislação é a <a href="http://www.camaradebarreiras.ba.gov.br/leis/lei-organica-barreirasba.pdf">Lei Orgânica do Município de Barreiras</a> (algo como uma “Constituição Municipal”) que, em seu Título II - Capítulo II trata das “Competências da Câmara Municipal” e dispõe (entre várias outras atribuições):<br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Art.38- É de competência exclusiva da Câmara Municipal:</span><br /><span style="font-family:courier new;">…</span><br /><span style="font-family:courier new;">XI- Fiscalizar e controlar, diretamente, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;</span></span><br /><br />Notem as palavras “exclusiva” e “diretamente”: elas significam que a Câmara Municipal é a única responsável pela “fiscalização e controle” da atuação da Prefeitura, e não pode delegar a ninguém esta atribuição. Um dos mecanismos previstos para esta “fiscalização e controle” pode ser visto no Artigo seguinte:<br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:courier new;">Art.39- A Câmara Municipal, pelo seu Presidente, bem como, qualquer de suas comissões, pode convocar Secretário Municipal para no prazo de oito dias, prestar pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando crime contra à administração pública a ausência sem justificação adequada ou a prestação de informações falsas.</span><br /><span style="font-family:courier new;">…</span><br /><span style="font-family:courier new;">§ 2º- A Mesa da Câmara Municipal pode encaminhar pedidos escritos de informações aos Secretários Municipais, importando crime contra a administração pública a recusa ou o não atendimento no prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas.</span></span><br /><br />Ora, então há um mecanismo, previsto em lei (e repetido também no próprio <a href="http://www.camaradebarreiras.ba.gov.br/leis/2005/regimento_interno.pdf">Regimento Interno da Câmara Municipal de Barreiras</a>, logo em seu Artigo 2º), para que a Câmara Municipal cobre do Executivo (Prefeitura) uma atitude com respeito a qualquer assunto de relevância para o município. Isto faz todo sentido, se pensarmos em termos do arranjo institucional que divide os poderes em três (Executivo, Legislativo e Judiciário): cada um destes poderes tem como uma de suas atribuições (dadas pela Constituição Federal), a fiscalização do funcionamento das demais. Sendo o Legislativo composto por representantes da população, nada mais justo que a população, por meio dos Vereadores, fiscalize e controle a atuação do Poder Executivo (como o próprio nome diz, o Poder que “executa”, que "atua", a Prefeitura).<br /><br />Assim, se a Prefeitura é responsável pela boca de lobo aberta há mais de um mês em Barreirinhas, a Câmara dos Vereadores <span style="font-style: italic;">também é responsável</span> pela situação, uma vez que está se eximindo de sua função de “fiscalização e controle”. do atos do Executivo. Quando professores e alunos da UFBA levam aos Vereadores uma demanda legítima, e ouvem destes uma defesa da Prefeitura e elogios ao Secretário Municipal (ao invés da aplicação da lei), a Câmara Municipal se torna <span style="font-style: italic;">também responsável</span> pela situação.<br /><br />Devido o equilíbrio de forças políticas no município (envolvendo, é claro, rumores de distribuição de cargos, etc.), a Câmara Municipal de Barreiras se mostra como um “anexo” ao Poder Executivo, um “apêndice” da Prefeitura. Mas isto pode mudar, não precisa ser assim. O Legislativo pode (e deve) ter autonomia diante da Prefeitura. Cada Vereador pode cobrar, pode exigir que a Câmara exerça seu poder de fiscalização. Quando das discussões sobre orçamento, por exemplo, os Vereadores poderiam consultar a população (de verdade!) para fazer um orçamento municipal que reflita as demandas reais do povo.<br /><br />E por que eles o fariam? Ora, se tudo está funcionando bem (na cidade dos “vereadores”, não na “nossa”), por que eles haveriam de querer dar ouvidos à população?<br /><br />Nesse ponto entra a questão das manifestações populares. Enquanto a cidade não demonstrar sua insatisfação com o funcionamento das instituições políticas municipais, a tendência é que tudo continue na mesma. Apenas quando a sociedade civil se organizar e se mobilizar, por meio de manifestações, demandas, plenários cheios e pressão política (pois, sim, isto é atuação política, ainda que não seja “dentro” da política formal) é que os ocupantes dos cargos representativos e executivos sentirão a necessidade de mudar este jeito de fazer política. Só quando mostrarmos que a cidade “deles” não existe e que é a “nossa” cidade que queremos transformar, poderemos ter esperança por algum tipo de mudança real. É por isso que os cientistas políticos dizem que Democracia é (muito!) mais que voto, vai (muito!) além da política formal, das eleições para cargos representativos: Democracia se constrói nas ruas, fazendo a “nossa” cidade, a Barreiras real bater à porta dos nossos representantes, com suas bocas de lobo abertas e pontes caindo.<br /><br />Já pensou se todos os que estão com problemas vêm fazer manifestação na porta da prefeitura? Já pensou se todos os que estão com problemas vão encher as 190 “poltronas confortáveis” do plenário, e exigir publicamente que seus Vereadores cobrem uma ação da Prefeitura? Já pensei e acho que o Município sairia ganhando (muito!).<br /><br /><div style="text-align: right;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">(Este texto é uma reprodução de </span><br /><span style="font-style: italic;">meu post em </span><a style="font-style: italic;" href="http://oestemaquia.blogspot.com/">OesteMaquia</a><span style="font-style: italic;">)</span></span><br /></div></div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-25409193482214731032010-02-18T18:00:00.004-03:002010-02-18T18:15:22.586-03:00Livro: "Monstros Invisíveis", de Chuck Palahniuk<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.livrariacultura.com.br/imagem/capas1/194/3243194.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.livrariacultura.com.br/imagem/capas1/194/3243194.jpg" /></a></div>
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Chuck Palahniuk é o autor do livro que deu origem ao filme "<a href="http://www.imdb.com/title/tt0137523/">Clube da Luta</a>", um de meus preferidos. Eu já tinha lido outro livro dele ("<a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2180396&sid=0012860561214609096059281&k5=2C64E3A3&uid=">Assombro</a>"), meio irregular, em que as histórias de vários personagens eram amarradas em um fio condutor que ironiza e leva ao extremo o mundo dos <i>Reality Shows</i>. Como algumas das histórias são muito boas (a ponto de eu ter incorporado - opa! - a expressão "uma cenoura na família", do primeiro dos contos, em meu repertório) resolvi arriscar mais um livro dele.</div>
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<br /></div>
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Na real, eu estava viajando a Campinas, por conta do doutorado, e já estava lendo um bom livro; mas meu estado de espírito estava mais na linha de Tyler Durden: <i>I felt like destroying something beautiful</i>. Então, entrei na FNAC e pedi o último Palahniuk...</div>
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Bom, tenho pouco a falar sobre o livro: não recomendo, não. A crítica desta vez se volta ao glamour do mundo da moda, por meio de uma protagonista que perdeu todo o maxilar ao levar um tiro. Drogas legais, esquemas, transexuais, tudo bastante exagerado, a ponto de ficar meio bobo algumas vezes. No fundo, mais importante que a história enrolada é o modo como o autor conta os acontecimentos, sendo possível perceber a estrutura narrativa semelhante à do Clube da Luta: o autor é fácil de se levar às telas, pelo modo como escreve, apesar de meio complicado pelos temas. Acho melhor ficar com o filme do <a href="http://www.imdb.com/name/nm0000399/">Fincher</a>, ao qual sempre voltei cada vez que <i>I felt like putting a bullet between the eyes of every Panda that
wouldn't screw to save its species. I wanted to open the dump valves on
oil tankers and smother all the French beaches I'd never see. I wanted
to breathe smoke.</i></div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-80718760296311654952010-02-12T15:00:00.001-03:002010-02-18T19:10:16.279-03:00Série: Lost<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicn2c03rRX3b1VsaB3HJ1qDidm8dHsAaUFEuPjpSaA5q0jTkYZ2jHkTLkm9UMVTC9IY1Vs7Wn4ar97yONxyS4EhzhlWzg71ycKHDXv_zZEKlG_ZmjwXbDyZi9jTf2Cpi0xzQb9ZRpwRb5v/s1600-h/lost-final-season-500x371.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicn2c03rRX3b1VsaB3HJ1qDidm8dHsAaUFEuPjpSaA5q0jTkYZ2jHkTLkm9UMVTC9IY1Vs7Wn4ar97yONxyS4EhzhlWzg71ycKHDXv_zZEKlG_ZmjwXbDyZi9jTf2Cpi0xzQb9ZRpwRb5v/s320/lost-final-season-500x371.jpg" /></a></div>
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Eu tinha me prometido escrever sobre <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Pagina_Principal">Lost </a>somente depois de encerrada a série, para evitar os malfadados <i>spoilers</i>. Mas não deu para esperar; faltam 100 dias para Lost acabar e o início da 6a temporada só me fez confirmar a opinião de que esta é uma das melhores produções para a televisão já realizadas. Além de outros fatores (como a narrativa - geralmente - boa), creio que a ousadia dos produtores é em grande parte responsável pelo nosso fanatismo (fanatismo sim, a ponto de não conseguirmos esperar uma mísera semana para ver na AXN, TEMOS que baixar assim que sai nos EUA). Até para falar disso, já vou cair em <i>spoilers</i>; portanto, quem não está acompanhando a 6a temporada, pare aqui ou prossiga por sua própria conta e risco (Val, estou guardando os episódios para você, só leia o resto depois de vê-los).</div>
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Bom, em primeiro lugar, o gênero. O suspense da 1a temporada foi dando lugar, paulatinamente, à ficção científica, passando por temas canônicos do gênero como a viagem no tempo e culminando agora com realidades paralelas. A estrutura narrativa reflete os temas abordados: inicialmente, tínhamos os <i>flashbacks</i>, construindo personalidades e relações prévias entre as personagens; no final da 3a temporada, recebemos o presente dos <i>flashforwards</i>, nos indicando o que aconteceria no pós-ilha e nos preparando para as viagens no tempo. Na 5a temporada, quando os saltos no tempo passam a acontecer, e o grupo se separa em "tempos" diferentes, os <i>flashbacks</i> são quase totalmente substituídos pelas narrativas assincrônicas - <i>flashtimes</i>. E agora, com a criação de um universo paralelo em que o avião não cai, temos o recurso dos <i>flashsideways</i>, passados em realidades diferentes em 2004 e 2007. Em resumo, a gente não se cansa com a narrativa, pois ela muda a cada mudança de estrutura do tema.</div>
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Ok, mas a forma não seria suficiente se o conteúdo não prestasse. E presta. E muito! É claro que houve certas irregularidades: a 3a temporada, com a greve dos roteiristas, me parece ter sido a mais prejudicada em seu início, mas nada que comprometesse. </div>
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As viagens no tempo começaram a ser abordadas na 3a temporada (Season 3, Episode 07, <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Not_In_Portland">s03e07 - Not in Portland</a>). Sutilmente, com o personagem <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Aldo">Aldo</a> (que reaparece na s06 só pra tomar um balaço) lendo "Uma Breve História do Tempo", de Stephen Hawkings e depois, na Sala 23 (em que <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Karl">Karl</a> está passando por uma lavagem cerebral <i>a la</i> <a href="http://facesdotesseract.blogspot.com/2009/08/clockwork-orange-laranja-mecanica.html">Laranja Mecânica</a>), onde uma voz gravada ao contrário diz "Only fools are enslaved by time and space": os tolos somos nós... Logo no episódio seguinte, <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Flashes_Before_Your_Eyes">s03e08 - Flashes Before Your Eyes</a> (na minha lista de "Top 5 para entender Lost") <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Desmond_Hume">Desmond</a> "salta" no tempo, como seus amigos farão na 5a temporada. No final deste post, quando colocarei minha teoria sobre o que vai acontecer, volto a falar sobre este episódio, sobre o papel de Desmond e sobre o que a <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Ms._Hawking">Sra. Hawking</a> ensina para ele.</div>
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Mas foi em <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/The_Constant">s04e05 - The Constant</a> que o tema entrou de forma conclusiva na trama. Lembro de minha reação quando <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Daniel">Faraday</a> diz para Desmond encontrá-lo em Oxford em 1996 (De Volta para o Futuro???): gritei um PQP sozinho na sala, comemorando porque a série entrava de vez para o cânone da fc. Daí pros saltos no tempo foi um pulo (trocadilho péssimo). Confesso que até aí minha teoria era de um <i>loop</i> simples no tempo: eles chegaram na ilha e deveriam ficar nela, rodando no tempo até fazerem algo, talvez mudarem seu comportamento para alterar uma das variáveis da <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Equa%C3%A7%C3%A3o_de_Valenzetti">Equação de Valenzetti</a>.</div>
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Digo que os produtores foram ousados porque não deveria ser fácil fazer os personagens saltarem no tempo (ainda mais, em grupos separados) sem que isso confundisse os telespectadores. Mas eles arriscaram, e construíram a narrativa de forma tão amarrada que as pessoas não se perderam (é claro que às vezes esquecíamos quem estava quando, mas no geral foi tranqüilo). A série tratou os fãs como gente grande. </div>
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Vamos falar agora do que está pegando mesmo na série: universos paralelos. Li em algum lugar - mas não consegui encontrar o vídeo - que nos extras da 5a temporada há uma cena deletada de Faraday explicando o mecanismo de auto-correção do tempo, e sua idéia de explodir a bomba. Segundo a descrição, imagine o tempo como um filete de água correndo. Se você jogar uma semente neste riacho, o fluxo é perturbado muito levemente, mas volta rapidamente a correr da mesma maneira que antes. Agora, se você atirar uma pedra (ou uma bomba nuclear, hehe) você pode até repartir o filete em dois. Creio que foi isso que aconteceu, criando as realidades paralelas. Resta a pergunta: os dois "filetes d'água" irão se reencontrar? </div>
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Construí minha teoria com base num post de meu amigo Shmoo no <a href="http://forum.thefuselage.com/showthread.php?t=88273">The Fuselage</a> (<strike>Shmoo, me passa o endereço do <i>thread </i>para eu postar aqui!!</strike> já está no link acima). Resumindo, em <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Further_Instructions">s03e03 - Further Instructions</a>, <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/John_Locke">Locke</a> tem uma visão com os personagens no aeroporto de Sidney, prestes a embarcar. Desmond - que não estava no vôo, neste universo - estava vestido de piloto. Bem, por que piloto? Ora, ele deve guiar, de alguma maneira, os sobreviventes. E por que Desmond? Bem, em s03e08 - Flashes Before Your Eyes a Sra. Hawkings ensina a Desmond uma regra da viagem no tempo (para trás): não se pode mudar o presente mudando o passado. Segundo ela, o universo tem um mecanismo de "auto-correção", o que significa que mesmo que você mude algum fato no passado, este fato acontecerá, mesmo que de modo ligeiramente diferente. Foi o que vimos no final de toda esta temporada, com Desmond tentando salvar <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Charlie_Pace">Charlie</a> mas, finalmente, não conseguindo em <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Through_the_Looking_Glass">s03e22 - Through the Looking Glass</a>.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKmP19isymKCTiLDe7Lr3fK-ARYhzLyfew4FOZI7QZM1SnWrdbQsOsBLlrxYwwWPbbGea3ddyr4yLKxKMAf5HOAbSr1yENdkbX-eCvebwRLygUgnbUE6vLKGrZNnnOxeSSw82TQSM5bw-x/s1600-h/Aande_stones.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKmP19isymKCTiLDe7Lr3fK-ARYhzLyfew4FOZI7QZM1SnWrdbQsOsBLlrxYwwWPbbGea3ddyr4yLKxKMAf5HOAbSr1yENdkbX-eCvebwRLygUgnbUE6vLKGrZNnnOxeSSw82TQSM5bw-x/s320/Aande_stones.jpg" /></a></div>
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Ainda sobre o episódio de Desmond, podemos ver rapidamente as pedras - <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Preto_e_Branco">branca e preta</a> - que representam a dualidade na ilha, <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Jacob">Jacob</a> e <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/O_Inimigo">anti-Jacob</a> (e que já tinham sido vistas antes no bolso de <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Ad%C3%A3o_e_Eva">Adão e Eva</a>, em <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/House_of_the_Rising_Sun">s01e06 - The House of the Rising Sun</a>, e nos olhos de Locke no sonho de <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Claire_Littleton">Claire</a> em <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Raised_by_Another">s01e10 - Raised by Another</a>), <a href="http://gallery.lost-media.com/displayimage-1250-267.html">sobre uma mesinha na primeira volta no tempo de Desmond</a>. Isto indica que ele tem papel fundamental neste balanço de poder, assim como Locke. Aliás, outro dia vi alguém citando as pedras no episódio de Desmond no fórum The Fuselage, mas eu tinha visto antes, anos atrás (quando a teoria é dos outros eu falo; como a descoberta foi minha, vou me gabar ;-) ). </div>
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Mas tem o seguinte: como explicou Faraday (talvez no já citado s04e05 - The Constant, mas não consegui me lembrar nem descobrir a referência), Desmond é a única pessoa que é capaz de mudar o futuro! Foi o que ele conseguiu fazer neste episódio, mudando sua lembrança e guardando o número de telefone para ligar para <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Penny">Penny</a>. Lembro que Faraday mudou de idéia em <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/The_Variable">s05e14 - The Variable</a>, achando que o livre arbítrio das pessoas - e uma bomba atômica - pode mudar o futuro, mas o que aconteceu, no final das constas, foi sua morte, que já estava programada (a mãe lembrava de ter atirado nele no passado). </div>
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Vi no Fuselage muita gente reclamando dos <i>flashsideways</i>, dizendo que esta linha narrativa não interessa em nada, é só pra gastar tempo. Discordo. É muito difícil imaginar como as linhas narrativas paralelas (em 2004 e 2007) possam se juntar, mas levando em consideração o mecanismo de auto-correção do universo, creio que é exatamente isso que vai acontecer. Com ilha ou sem ilha (embaixo d'água), creio que os eventos das duas realidades irão convergir, os personagens estabelecerão novas relações (<a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Kate">Kate</a> e Claire já se aproximaram em <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/What_Kate_Does">s06e03 - What Kate Does</a>) e, eventualmente, os fatos das duas linhas irão convergir para um mesmo resultado comum.</div>
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Renato Frigo, na Lista do <a href="http://www.clfc.com.br/">CLFC</a>, perguntou: "como a ilha afundou, o <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/Charles_Widmore">Widmore</a> morreu naquela explosão e com isso não teremos na versão atual de 2007 o Widmore tentando entrar na ilha...n em a Penny existe mais... logo o Desmond estaria no avião porque?" Minha resposta, então, é: para "pilotar" os personagens deste universo alternativo de 2004, alterando seu futuro (ele é o único que pode!) e levando-os a uma situação semelhante aos seus alter-egos da ilha em 2007. </div>
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Por que Desmond sumiu do avião, em <a href="http://pt.lostpedia.wikia.com/wiki/LA_X,_Partes_1_%26_2">s06e02 - LA X 2</a>? Como os universos paralelos irão colapsar? Vamos saber em 100 dias.</div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-43547129183113872642010-01-04T15:56:00.000-03:002010-01-04T15:56:31.296-03:00Borges e seus Metacontos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://www.livrariacultura.com.br/imagem/capas1/537/2271537.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.livrariacultura.com.br/imagem/capas1/537/2271537.jpg" /></a><br />
</div><div style="text-align: justify;">Hesitei em escrever sobre <a href="http://www2.fcsh.unl.pt/borgesjorgeluis/">Borges</a>, pelo simples fato de ser Borges. Este texto facilmente cairia num grande (e vazio) elogio da obra do autor; ou então, numa coleção de recomendações. Quando comecei a ler <a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2271537&sid=99819610311925379602086167&k5=38640A6E&uid=">Ficções</a>, logo no conto "Tlön, Uqbar, Orbis Tertius", a cada página eu pensava: fulano <i>tem</i> que ler isso, sicrano vai <i>adorar</i>, <i>preciso </i>tirar uma cópia para Mariazinha.<br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;">Decidi, então, deixar de lado a crítica (incompetente que sou em fazê-la) e a recomendação (simplesmente LEIAM!) e vou falar um pouco sobre os motivos que levam Borges a ser o autor preferido dos lógicos. Para tanto, vou analisar o tema de dois contos e tratar um pouco da estrutura geral apresentada pelos textos de "Ficções".<br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;">Tomemos, em primeiro lugar, o conto "Funes: o Memorioso". Trata-se de uma fantasia a respeito de um homem que, após um acidente, ganha a capacidade de lembrar-se de tudo. Imagine isso! Mais que uma memória eidética, trata-se da capacidade de se lembrar de todos os detalhes e posições, por exemplo, da roseira que vejo enquanto escrevo esta postagem, das diferenças entre um objeto no <i>agora</i> e o mesmo objeto no <i>agora há pouco</i>.<br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;">Entretanto, ainda que esta característica pareça, à primeira vista, algo estritamente positivo, Borges nos surpreende ao mostrar que esta memória perfeita é incapaz de raciocinar! Isto acontece porque, tendo Funes o registro de todos os pormenores de qualquer objeto em qualquer instante, ele é incapaz de ver nesses objetos qualquer constância. Ao ver um cachorro e olhar para ele um segundo depois, tantas coisas, detalhes, posições, configuração dos pelos, orelhas, olhos, boca, seu peito arqueado pela respiração, tanto, tanto mudou naquele simples cachorro que Funes não consegue aceitar ser(em) o mesmo cão.<br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;">Borges nos diz que Funes é incapaz de generalizar. Além disso, seu mundo não contém um dos princípios da lógica aristotélica:<br />
</div>∀<i> x</i>, <i>x</i> = <i>x</i> (para todo objeto, vale que ele é idêntico a si mesmo) - Princípio da Identidade.<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">No mundo de Funes, a ciência seria impossível, pois todo conhecimento seria particular, sem espaço para generalizações (nem mesmo a respeito de um único objeto, pois o Memorioso vê, nele, inúmeros objetos não-relacionados).<br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;">Outro conto fantástico é "A Biblioteca de Babel", que descreve um mundo formado por uma vasta (potencialmente infinita) biblioteca habitada por pessoas e com o conjunto de todos os livros possíveis. E que são estes "todos livros possíveis"? Todas as combinações de caracteres possíveis (para simplificar, um único alfabeto, e apenas vírgulas e pontos como sinais de pontuação). Vocês conhecem a idéia: dado tempo suficiente, um macaco numa máquina de escrever chega a digitar Hamlet, de Sheakespeare. Ou seja, na Biblioteca de Babel (em algum lugar dela) está a sua dissertação de mestrado, minha primeira redação da escola, o "Dependência e Desenvolvimento na América Latina" de FHC (nós podemos esquecer, mas a Biblioteca não esquece nunca! - como Funes), tudo isso gerado por puro acaso.<br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;">Não consigo dissociar esta imagem de uma descrição dos sistemas vivos que vem se tornando padrão: ilhas de ordem num universo de desordem. De todos os livros da Biblioteca, a quantidade de livros (organizações de letras) aproveitáveis seria minúscula em relação à quantidade de livros apenas com letras agrupadas sem sentido. Em outras palavras: numa distribuição aleatória de letras, a quantidade de distribuições que fazem algum sentido é muito menor que a quantidade das caóticas. Isto é quase uma definição de entropia, em que a quantidade de estados mais desordenados é muito maior que a de estados ordenados; e o ser vivo é, muito claramente, um sistema de partículas organizadas, em baixa entropia, que sobrevive ao gerar desordem no ambiente (e captar ordem dele).<br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;">Mas eu queria avançar um raciocínio: se não houver limite de páginas por livro, a Biblioteca contém não só infinitos livros mas também livros infinitos! E mais: se a quantidade de livros for infinita, as quantidades de livros significativos e não-significativos também serão infinitas (desde que tomemos a liberdade de definir como "significativo" um livro que ninguém consegue ler até o fim no tempo de uma vida finita...) Neste caso, a análise do parágrafo acima cai por terra: não podemos mais comparar as quantidades.: todos infinitos deste tipo - chamados "enumeráveis" - têm a mesma quantidade de elementos. Acho melhor colocar um limites de letras para os livros da Biblioteca de Babel.<br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;">Além disso, a Biblioteca de Babel tem um catálogo, que faz referência a <i>todos os outros</i> livros (sim, da combinação aleatória de letras também surgiria um catálogo de todas as outras combinações). Ora, pergunto: se o catálogo referencia todos os <i>outros</i> livros, ele é completo? Bom, se o catálogo é um livro, ele deveria constar em si mesmo e, como não consta, é incompleto. Mas, pensando melhor, deve haver um meta-catálogo que referencia todos os outros livros e mais o catálogo original... Mais uma vez, sem um limite de letras por livro, estamos diante de uma progressão infinita.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;">Se os jogos com o conhecimento e com quantidades infinitas já são suficientemente enlouquecedores, a estrtura geral dos contos de Borges também não é nada simples. As histórias são contadas, geralmente, como "histórias a respeito de histórias". Como escreve o autor no Prólogo do volume:<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">"Desvario laborioso e empobrecedor o de compor vastos livros; o de explanar em quinhentas páginas uma idéia cuja exposição oral cabe em poucos minutos. Melhor procedimento é simular que estes livros já existem e apresentar um resumo, um comentário". <br />
</span><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele faz exatamente isso, escrevendo sobre livro imaginários. Por exemplo, o já citado "Tlön, Uqbar, Orbis Tertius" não é um conto sobre o país Uqbar, do planeta Tlön, mas sim um conto sobre uma enciclopédia (criada pela confraria de intelectuais chamada Orbis Tertius) que <i>descreve</i> o país Uqbar do planeta Tlön. O conto é um texto fictício sobre um texto fictício escrito por um grupo fictício: é um metaconto.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A estrutura é semelhante à de "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam", em que os personagens descrevem um livro que é um labirinto (é quase uma alegoria do hipertexto - esses <a href="http://www.ime.usp.br/%7Eis/abc/abc/node9.html">links</a> que você clica e te levam de texto em texto na web - escrito 50 anos de isso existir) e levada ao paroxismo em "Peirre Menard, autor do Quixote", em que o narrador descreve a tentativa de um autor (mais uma vez fictício) de escrever "Dom Quixote", séculos depois da escrita original de Cervantes, mas com a condição de que o texto seja o mesmo, <i>palavra por palavra</i>! Um metaconto: a descrição do trabalho de um autor que se impõem a reescrita de um livro que já existe, sem copiá-lo, obviamente. Se não tomarmos cuidado, as regressões se tornam infinitas, mais uma vez.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não é à toa que o bibliotecário cego de Umberto Eco em "O Nome da Rosa" se chamava Jorge... <br />
</div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-79729481595499810602009-12-23T10:49:00.000-03:002009-12-23T10:49:43.800-03:00Boas FestasSegue mensagem de meu grande amigo Rodrigo, faço minhas suas palavras e voto.<br />
<br />
<div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">Para aqueles que sempre se emocionam e me pedem repetidamente (valeu Rafa), segue meu tradicional voto de boas festas.<br />
</div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOj6oAP70NqP0KqTH-KHJl69JSg1uP_V-9ymU1X3SRoS_VSbDoNl-Yv8aetsh0JoMFCRnkQgFgrnosHQoixYy1ZJwlNBtiLjaIsHgmtEiCm92g_gG-m57nlIAYzaoczl0fnptiN_JldtM4/s1600-h/votodeboasfestas(2).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOj6oAP70NqP0KqTH-KHJl69JSg1uP_V-9ymU1X3SRoS_VSbDoNl-Yv8aetsh0JoMFCRnkQgFgrnosHQoixYy1ZJwlNBtiLjaIsHgmtEiCm92g_gG-m57nlIAYzaoczl0fnptiN_JldtM4/s400/votodeboasfestas(2).jpg" /></a><br />
</div><br />
<br />
<div style="font-family: Verdana,sans-serif;">Abraços<br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif;">rodrigo<br />
</div><div style="font-family: Verdana,sans-serif; text-align: justify;">P.S.: Talvez algumas pessoas mais jovens não entendam completamente a piada devido ao advento da tecnologia de votação eletrônica que aposentou as charmosas e democráticas cédulas de papel. Democráticas porque você podia votar efetivamente em quem quisesse. Ou escrever um também democrático palavrão. <br />
</div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-61598675041584846332009-12-17T17:34:00.000-03:002009-12-17T17:34:09.441-03:00Links CientíficosPara os biólogos: <a href="http://learn.genetics.utah.edu/content/begin/cells/scale/">Cell Size and Scale</a><br />
Para os químicos: <a href="http://www.ptable.com/">Tabela Periódica (Portuguese Periodic Table)</a><br />
Para os computeiros: <a href="http://www.axiis.org/examples/BrowserMarketShare.html">Historical Browser Statistics</a><br />
Para os psicólogos: <a href="http://www.29-95.com/time-suck/story/bobby-mcferrin-fucks-your-mind">Bob McFerrin Fucks With Your Mind</a><br />
Para os matemáticos: <a href="http://www.wolframalpha.com/input/?i=%281-%28%7Cx%7C-1%29%5E2%29%5E0.5%3D-2.5%281-%28%7Cx%7C%2F2%29%5E0.5%29%5E0.5">(1-(|x|-1)^2)^0.5=-2.5(1-(|x|/2)^0.5)^0.5 - Wolfram|Alpha</a><br />
<br />
Para os físicos: <a href="http://www.blogger.com/goog_1261077783446"></a><a href="http://www.falstad.com/ripple/ex-2source.html">Interference</a><br />
Para os sociólogos: <a href="http://www.rts.org.br/">Rede de Tecnologia Social</a> <br />
Para os saudosistas: <a href="http://oscientistas.wordpress.com/">Os Cientistas</a> (quase chorei quando encontrei este site) <br />
Para todos: <a href="http://www.youtube.com/watch?v=x8Imk7B7s1c">Homo erectus</a> (quase chorei... de rir)Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-85640480555170977042009-12-15T14:19:00.000-03:002009-12-15T14:19:15.152-03:00Os Sete<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://www.livrariacultura.com.br/imagem/capas1/048/3025048.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.livrariacultura.com.br/imagem/capas1/048/3025048.jpg" /></a><br />
</div>O mercado editorial brasileiro, apesar do crescimento recente, ainda é fraco em lançamentos no segmento conhecido por "Ficção Científica, Horror e Fantasia". Por esse motivo, fiquei bastante empolgado quando as listas de discussão e o fandom da área começaram a falar do escritor <a href="http://www.andrevianco.net/inicial.html">André Vianco</a>, "o Stephen King de Osasco". Decidi dar minha contribuição e aproveitar para voltar a ler um livro de horror - há tempos li meu último Stephen King. Comprei <a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=3025048&sid=99819610311925379602086167&k5=1114AFAE&uid=">Os Sete</a>, romance sobre antigos vampiros portugueses que são encontrados presos dentro de uma caravela naufragada no litoral brasileiro.<br />
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A história é bem interessante, com uma boa divisão de linhas narrativas que voltam a se amarrar do meio para o fim do livro. A descrição das partes sanguinolentas também é bastante gráfica, e a idéia geral do livro se sustenta. Vianco é um contador de história imaginativo e seus vampiros (cada um com uma "habilidade" especial) funcionam como um time quase invencível.<br />
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Mas há um problema, na minha opinião, sério: o livro é muito mal escrito. Há alguns momentos em que parece que o autor é incapaz de usar orações subordinadas, coodenadas, ou apenas longas. Durante a leitura, eu chegava a rezar por um ponto-e-vírgula, um dois-pontos, um mero "e"... Parece bobagem, mas vá ler quase 400 páginas de: "Eles estavam no cais. O cais estava frio. O vento frio agitava seus cabelos. As ondas quebravam com força". Haja paciência! Depois de umas 20 páginas disso, a cada ponto final eu tinha um sobressalto.<br />
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O autor é um ótimo contador de histórias, mas talvez seja um cara que funciona melhor mestrando (ou <a href="http://www.rederpg.com.br/portal/modules/newbb/viewtopic.php?topic_id=735&forum=57&post_id=16640">mestreando</a>) um <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Role-playing_game">RPG</a>. Por exemplo, um vampiro vai tentar abrir um enorme portão enferrujado; inicialmente não consegue, então "o monstro usou sua força vampírica para abrir o portão". Quase posso me ver numa mesa de <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Vampiro,_A_M%C3%A1scara">Vampiro: a Máscara</a>, participando do seguinte diálogo: "Vou abrir o portão!", "Você não consegue, a fechadura está enferrujada", "Jogo 1d6 contra minha força vampírica", "Tirou 3, conseguiu abrir o portão!"<br />
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A questão é a seguinte: a literatura brasileira mainstream é muito rica e culta em sua forma; o esmero com o idioma é marca registrada dos autores nacionais mais importantes. Já os (sub-)gêneros fc, horror e fantasia, de uma maneira geral, dão mais ênfase no conteúdo, e acabam sendo desprezados por nossa elite cultural. É claro que há honrosas exceções (<a href="http://www.releituras.com/ilbrandao_bio.asp">Ignácio de Loyola Brandão</a>, com "Não Verás País Nenhum", <a href="http://www.scarium.com.br/artigos/ac.html">André Carneiro</a>) e casos semelhantes na literatura internacional (se o texto de Tolkien é refinado, Asimov é bastante básico), mas me parece que um maior cuidado com a forma seria muito produtivo para os autores nacionais, e para o gênero de uma maneira geral.<br />
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Antes que me critiquem: sei que é mais fácil dizer do que fazer. Minha novela publicada ("De Genes, Clones e Afins") é um exemplo de pouco cuidado com a forma. Meu português é até razoável :-) mas o texto é esquemático e pouco detalhado. Um amigo deu uma ótima definição: "Foi o melhor <i>abstract</i> de romance que eu já li". Mas com mais treino e leitura vai-se apurando a técnica - assim espero!<br />
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Para encerrar, apesar de todas as críticas, a história de Os Sete é muito bem construída. Para falar a verdade, terminei o livro louco para saber o que acontece depois (no livro "Sétimo"), mas acho que não vou comprar, não: vou procurar para baixar na rede.Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-80169410481810461592009-12-09T11:00:00.005-03:002009-12-09T20:27:18.047-03:00Crítica da Apresentação: "Natura y Cultura"<div style="text-align: justify;">Na última sexta-feira, dia 4 de dezembro, fui a Campinas para assistir a uma apresentação de um professor da Universidade de Barcelona - cujas áreas principais de estudo são a filosofia analítica, filosofia da ciência e lógica -, convidado por minha orientadora para falar sobre "Natureza e Cultura" com nosso grupo de <a href="http://www.cle.unicamp.br/principal/autoorganizacao/">Auto-Organização</a> (como vou criticar bastante a apresentação, me reservo o direito de não dizer o nome do professor que, de maneira geral, foi extremamente simpático). Resumo, abaixo, sua apresentação:<br />
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<div style="text-align: justify;">A idéia básica é tratar o genoma e o cérebro como processadores de informação (o primeiro confiável, de longo prazo, o segundo mais contingente, em "tempo real"). "As coisas mais importantes estão no genoma", disse ao início o professor, inclusive ações como, por exemplo, o reconhecimento de faces: neste caso, o genoma cria um cérebro que já tem estruturas capazes de realizar a tarefa. Sob este ponto de vista, a <i>Cultura</i> é vista como um tipo de informação, presente no cérebro e cujas unidades menores (os <i>memes</i>, nomenclatura popularizada por Richard Dawkins no livro <a href="http://www.livrosgratis.net/download/344/o-gene-egoista--richard-dawkins.html">O Gene Egoísta</a>) encontram-se codificadas nas conexões neuronais. Tal concepção permite a existência de uma <i>Cultura Individual</i>, definida como o conjunto dos memes codificados no cérebro de um ser humano <i>x</i> num instante <i>t</i>; da mesma forma, o que ele chama de <i>Cultura de Grupo</i> é definido como a união de todos os memes presentes em todos seres humanos <i>x</i> pertencentes a um grupo <i>G</i> num dado instante <i>t</i>. Mais ainda, pode-se definir a grandeza <i>Cultura Unânime</i> como a intersecção dos memes presentes em todos seres humanos <i>x</i> pertencentes a um grupo <i>G</i> num dado instante <i>t</i>; este conjunto, segundo o professor, é vazio para grupos grandes como por exemplo a população de um país.<br />
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<div style="text-align: justify;">Se você não é sociólogo, ou de áreas afins, pode não ter notado certos problemas com esta descrição; ela pode parecer até bastante atraente do ponto de vista operacional, já que é possível operar matemática e logicamente com conjuntos, por meio de regras bastante bem definidas. Mas há alguns problemas importantes aí. Se definirmos Cultura apenas como o conjunto dos conhecimentos presentes no cérebro dos indivíduos, deixamos de lado uma série de estruturas sociais, modos de armazenamento externos (livros, história oral, blogs, etc.) e relações sócio-político-econômicas que estão disponíveis aos membros de uma sociedade, mas não necessariamente se encontram completamente refletidos em suas conexões neuronais. Em outras palavras: Cultura é <i>muito mais</i> que a soma dos conhecimentos dos indivíduos. Eu nunca li "Dom Quixote", mas este texto pertence à minha cultura, o que me permite ler um conto de Borges sobre este livro e entender o significado de um adjetivo como "quixotesco" e de uma metáfora como "moinhos de vento".<br />
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<div style="text-align: justify;">O professor espanhol usa uma abordagem bastante ortodoxa, cartesiana, ao dividir o ente "cultura" em suas manifestações individuais (cultura individual) e mais ainda em suas menores partes (memes). Mas, faz realmente sentido pensar em uma cultura <i>individual</i>? Cultura não deveria ser algo definido em função das relações entre seres humanos? Faz sentido dizer que a cultura de um grupo não envolve suas práticas sociais, simbolismos, tradições que podem moldar comportamentos sem serem necessariamente expressas em codificações neuronais? E que dizer da tal cultura unânime, que seria um conjunto vazio em grandes populações? Nós brasileiros - como de resto, qualquer participante conjunto de indivíduos que se auto-denomina "nação" - não temos, então, uma história, instituições político-sociais, idioma e o escambau em comum?<br />
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<div style="text-align: justify;">O que aconteceu nesta apresentação foi um caso de duplo colonialismo: em primeiro lugar, o professor, vindo da Europa, chegou em nossas terras tupiniquins imbuído do objetivo de doutrinar os pobres nativos: sua apresentação foi pobre, e ele não esperava que os subdesenvolvidos conhecessem algo dos assuntos por ele tratados.<br />
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<div style="text-align: justify;">Numa segunda dimensão, trata-se do colonialismo freqüente entre ciências exatas ou naturais, de um lado, e ciências humanas, de outro: muitos cientistas das áreas ditas "duras" acham que as ciências humanas estão buscando desesperadamente um método que as permita ser ciências "de verdade", seja via matematização, seja via biologização dos temas das humanidades. Ao tratar um tema tão central nas ciências humanas como é a Cultura (totalmente central, cerne mesmo da antropologia e da sociologia) seria de se esperar, minimamente, que o professor ao menos citasse os autores e escolas de pensamento destas áreas (minto, ele citou Lévi-Strauss para dizer que ele estava errado, pois o tabu do incesto é encontrado em outros animais - sugiro leitura mais detalhada do autor-, e Freud para dizer que é religião).<br />
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<div style="text-align: justify;">Vou contar dois segredos, por favor, não espalhem: 1. Nós cucarachas <b>não</b> estamos desesperados por receber o conhecimento pronto gerado no Norte (ao contrário, cremos ter capacidade de contribuir como parceiros para a geração de novo conhecimento) e 2. Nós das humanidades <b>não</b> estamos deseperados por receber prontos os métodos das ciências naturais. É claro que as ciências humanas têm muito o que aprender e utilizar das ciências mais formais, como a física e a matemática, e devem fortalecer sua interação com as ciências biológicas (que apresentaram um crescimento muito grande no último meio século); isto não significa transplantar a matematização das primeiras ou se reduzir às últimas, situações que acabam sendo sempre aventadas e que, de resto, foram tentadas em alguns momentos, seja por pensadores das próprias humanidades, seja por "colonizadores externos".<br />
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<div style="text-align: justify;">Um exemplo de tentativa de "colonização" foi a <a href="http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=17&id=169">Sociobiologia</a>, proposta pelo entomologista norte-americano Edward O. Wilson. Esta teoria afirma que o comportamento humano pode ser estudado exclusivamente por uma abordagem evolutiva; hoje, a Sociobiologia está desacreditada, mas sua "filha", a <a href="http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM963248-7823-PSICOLOGIA+EVOLUCIONARIA+EXPLICA+TENDENCIAS+INATAS+DO+SER+HUMANO,00.html">Psicologia Evolucionária</a> ainda dá frutos e aparece com mais destaque na mídia do que as abordagens puramente sociológicas ou antropológicas. Wilson, quando lançou sua teoria, acreditava estar auxiliando as ciências humanas, trazendo-lhes uma base biológica; o biólogo não entendeu quando vieram as duras críticas por parte das humanidades.<br />
</div><br />
<div style="text-align: justify;">Ora, o fundamento das críticas era, simplesmente, o fato de que o tema das humanidades estava sendo reduzido aos parâmetros de outra ciência. Tal redução desconsidera por completo todo o desenvolvimento teórico e todo o pensamento social produzido não apenas nos últimos séculos (desde o surgimento de disciplinas específicas das humanidades) mas também de toda filosofia social que remonta até os pré-socráticos. A questão aqui foi o tratamento dado às questões antropossociais como mero apêndice do mundo natural, a ele considerado redutível, desconsiderando completamente a dimensão simbólica e cultural das sociedades humanas, bem como sua enorme diversidade. Quando se fala de primatas, há certamente pontos a serem discutidos em comum; porém, comparar "sociedades" de insetos a "sociedades" humanas é pura e simplesmente chamar duas coisas completamente diferentes pelo mesmo nome. É postura semelhante a dizer: pra falar sobre essas bobagens, falamos nós, cientistas "exatos", já que todo conhecimento se reduz ao "nosso" conhecimento.<br />
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<div style="text-align: justify;">Ao se tratar com o respeito devido os desenvolvimentos teóricos das humanidades, todos teríamos a ganhar. Enquanto o ser humano for concebido, pelas humanidades, como ser incorpóreo e etéreo vivendo num mundo puramente cultural ou, pelas ciências naturais, como ser cujo comportamento é ditado exclusivamente por seu genoma, ele não terá sido <i>realmente</i> concebido. Apenas quando conseguirmos entender o fenômeno humano como simultaneamente cultural, biológico e psicológico (não apenas como uma composição destes, mas percebendo que cada uma destas dimensões está "entrelaçada", "acavalada", "entranhada" nas demais, à moda de uma conjunção complexa "&") é que poderemos começar o tratamento mais correto das questões relativas ao comportamento humano, sem nos deixar levar pelo canto da sereia da redução de nossa complexidade a uma simplificação mutiladora a um desses termos.<br />
</div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-49524229669244781572009-12-06T19:13:00.002-03:002009-12-06T19:46:14.939-03:00O Clube do Filme<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.livrariacultura.com.br/imagem/capas1/785/3240785.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 120px; height: 180px;" src="http://www.livrariacultura.com.br/imagem/capas1/785/3240785.jpg" alt="" border="0" /></a><a href="http://www.calypsoconsulting.com/davidgilmour.html"></a><div style="text-align: justify;"><a href="http://www.calypsoconsulting.com/davidgilmour.html">David Gilmour</a> foi crítico de cinema, apresentador de <span style="font-style: italic;">talk-shows</span> na TV canadense e escritor. A certa altura de sua vida, com dificuldades de conseguir emprego e um filho de 15 anos sendo reprovado seguidamente no colégio, pai e filho fazem um pacto: Jesse poderia abandonar a escola, não precisaria trabalhar nem pagar aluguel, desde que se comprometesse a ver 3 filmes, escolhidos pelo pai, a cada semana. Se possível, conversariam depois sobre o filme e suas relações com a vida dos dois.<p></p><p></p><div style="text-align: justify;">A história deste relacionamento está no livro <a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=3240785&sid=99819610311925379602086167&k5=26AB9669&uid=">O Clube do Filme</a>, escrito pelo pai após quase três anos nesta experiência. Durante este tempo, o filho cresceu, passou por crises amorosas, usou drogas e... assistiu a filmes. O pai, David, se perguntou todo este tempo se havia tomado a decisão correta ou se estaria prejudicando irremediavelmente Jesse, retirando dele o que é considerado quase que universalmente o bem maior que se pode dar a um filho: a educação. A dúvida procede: é óbvio que boa parte dos "aborrescentes", se questionados quanto à escola, prefeririam ficar em casa, coçando suas partes não-públicas-mas-púbicas, vendo TV e navegando na internet (a bem da verdade, é provável que a maioria dos adultos também respondesse isso com relação a seus empregos...); entretanto, uma coisa é um garoto de 15 anos querer algo, outra completamente diferente é um adulto responsável por ele deixá-lo ter o que quer.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">David foi ousado, e deixou seu filho em casa, com a esperança de que, no futuro, ele próprio retornaria à escola (o que efetivamente aconteceu). Outra decisão positiva do pai foi apresentar a Jesse filmes de todos os gêneros e qualidades: dramas, comédias, terror, desde cults europeus até a pior trasheira hollywoodiana. Isto permitiu que o filho se identificasse mais com as sessões, sem que estas se tornassem aulas em pele de DVD.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Mas se a filmografia e a relação pai-fillho são os pontos altos desse livro, há vários pontos-baixos. Muitos trechos parecem estar lá apenas para a auto-afirmação do autor, o qual, diga-se de passagem, acaba sendo o foco do livro ao invés do relacionamento entre ele e o filho; é a volta do velho narcisismo, tocado num <a href="http://facesdotesseract.blogspot.com/2009/11/boomerite-um-romance-que-tornara-voce.html">post anterior</a>. Não poucas vezes me peguei pensando: tá, mas não quero saber de você, quero saber dos filmes e dos papos que você teve com seu filho. Parece que até Jesse fica de saco cheio do pai depois de um tempo; um crítico mais ácido escreveu: "pra parar aquela chatura paterna vale tudo, até trabalhar como lavador de pratos ou, suprema desdita, voltar a estudar".</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Além disso, em muitas passagens parece que o autor de 50 anos é mais "aborrescente" que seu filho adolescente. Quando Jesse perde uma namorada e chapa o coco até baixar hospital, o pai pensa: "Ele vai morrer disso!". Que é isso, rapaz? Parece que David nunca foi adolescente: nessa época, tudo é difícil, importante, fundamental mesmo, e qualquer revés na vida é o fim do mundo (tem um filme que não estava na filmografia de Gilmour, <a href="http://portalcinema.blogspot.com/2009/02/realizado-por-richard-kelly-com-jake.html">Donnie Darko</a>, que traz uma fantástica metáfora do que é a adolescência; talvez o autor devesse vê-lo...). Não vai morrer não, vai só chapar mais ainda e depois passa.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Enfim, o livro tem altos e baixos. Vale a leitura, mas achei que seria melhor.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">E... não, Gabriel, nem peça para montarmos nosso próprio Clube do Filme que não vai rolar...<br /></div></div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-37595093161297897822009-11-30T17:10:00.001-03:002009-11-30T17:10:22.250-03:00Viagem a Canudos<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixc5dmMil91lgjesyA-oLvBNf_qn7LCTTWGisXzIl_SWUqPz22xvzH2e5-6UafBJq9XmA-vitER5brQ7kgENj6GjYKsYhnfeVMD66UGUvipNcB7dqUPbzbn1HMM0_LpF28fBLJ_0zF8W59/s1600/PICT0009.JPG"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 150px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixc5dmMil91lgjesyA-oLvBNf_qn7LCTTWGisXzIl_SWUqPz22xvzH2e5-6UafBJq9XmA-vitER5brQ7kgENj6GjYKsYhnfeVMD66UGUvipNcB7dqUPbzbn1HMM0_LpF28fBLJ_0zF8W59/s200/PICT0009.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5409942399966689954" border="0" /></a><div style="text-align: justify;">Neste último fim de semana, dias 28 e 29 de novembro, participamos de uma excursão para Canudos/BA, com os alunos do Bacharelado Interdisciplinar de Ciência e Tecnologia. A viagem foi muito boa, em diversos aspectos (relevando ônibus com ar condicionado quebrado, atrasos e confusões com pousadas e transportes).</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Após uma longa jornada de ida (14 horas de ônibus), fizemos uma primeira parada em Euclides da Cunha, onde utilizamos o auditório da UNEB para dar as primeiras instruções aos alunos quanto ao trabalho de campo. A idéia foi dividi-los em 10 grupos que devem criar pequenos documentários de 10 a 20 minutos de duração, sobre temas especificados por nós e referentes à Guerra de Canudos.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Mais uma hora no ônibus e chegamos a Monte Santo, <a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ04cWTUxyg2AaKM4U43YDEccFtdW-ZxSMm-Xd06IvQ3po4dV_7h1YVJfHqRxplqpX2H1OSbjN5pASja1u3GOI1pqe65pRJCN0PHniJHvWMyeXihncaQNh_deIyfPdRkk6ynKAUq3zrPkQ/s1600/PICT0051.JPG"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 150px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ04cWTUxyg2AaKM4U43YDEccFtdW-ZxSMm-Xd06IvQ3po4dV_7h1YVJfHqRxplqpX2H1OSbjN5pASja1u3GOI1pqe65pRJCN0PHniJHvWMyeXihncaQNh_deIyfPdRkk6ynKAUq3zrPkQ/s200/PICT0051.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5409986338788170402" border="0" /></a>cidade pequena mas muito bem arrumada, onde Antonio Conselheiro restaurou as 24 capelinhas da Via Sacra. Subida infernal para chegar ao topo do tal Monte, onde Prof. Sandro incorporou o "Bom Jesus Conselheiro" e pregou para nós em frente à igreja, explicando (e exemplificando um pouco, hehe) aos alunos e demais professores o significado do messianismo naquela região.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Depois de uma descida quase tão ruim quanto a subida, tivemos que esperar um tempo na praça da cidade, mas valeu a pena: o pessoal do Museu do Sertão o abriu para nós, já às 19hs. Os alunos tiveram a oportunidade de ver diversos artefatos, armas e fotos da época da Guerra de Canudos, e tiraram várias fotografias para o trabalho. Na saída, Profa. Deborah participou de um "escambo simbólico": deu um pouco de atenção numa boa conversa com uma senhora da cidade e ganhou em troca umas laranjas (sob a reprovação bem-humorada dos Profs. Juarez e Gilmara). A situação me lembrou o "Ensaio Sobre a Dádiva", de Marcel Mauss, no qual se decreve a troca (mesmo simbólica) como base para a sociabilidade humana: Deborah, ao aceitar as laranjas, colocou-se (e, por extensão, a nós todos) na "família" de Monte Santo.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_yITwkxS6Zz4pEQsaYZ14qsvgi6SsXBOKB-IEoHc_ZksRePkeNPUhDPzH9Iu7PEHDZjuObJlItej5ZzDQ-hDHxuRJFSLwGgpFib5YyEI81cWQpUwXvdeHPzLxX5P7IykYUvTIUTCd3f_p/s1600/PICT0152.JPG"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 150px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_yITwkxS6Zz4pEQsaYZ14qsvgi6SsXBOKB-IEoHc_ZksRePkeNPUhDPzH9Iu7PEHDZjuObJlItej5ZzDQ-hDHxuRJFSLwGgpFib5YyEI81cWQpUwXvdeHPzLxX5P7IykYUvTIUTCd3f_p/s200/PICT0152.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5409963077475660850" border="0" /></a></div> Dali partimos para Canudos Nova, onde visitaríamos bem cedo no dia seguinte (apesar de só conseguirmos jantar à meia-noite, dormindo muito pouco nesta noite) o Parque de Canudos, mantido pela UNEB. Esse passeio foi realmente muito bom, especialmente para entendermos melhor o carisma de Conselheiro e a loucura de seus estimados 25 mil seguidores, acreditando que aquele local árido e de solo pedregoso seria o futuro paraíso. Ali os alunos puderam conversar com os professores sobre o que viam ao seu redor, reforçando o caráter interdisciplinar da atividade. Visitamos ainda o Memorial Antonio Conselheiro, que tem recortes de jornais da época da Guerra e onde assistimos a um curta de Jorge Furtado sobre o tema.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Finalmente, encerramos os trabalhos no lago de Cocorobó, mas a reunião programada acabou acontecendo só na frente do ônibus, já nos aprontando para a partida: relaxamos um pouco na beira do lago, nos preparando para as próximas 15 horas de viagem.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Se o trabalho foi bom, a parte de integração do pessoal foi ótima. Alunos puderam interagir com outros que não fazem parte de seu círculo de amizades, com outros professores além dos que ministram as disciplinas do primeiro ano e os próprios professores puderam conhecer melhor uns aos outros e aos alunos do BI-C&T. De minha parte, pude interagir mais com vários alunos<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEgG3TtkvggfI_S2CGvxh4Ymybsf_6B1Q5tUWqy61BLsMsvbsEba4kmknrbG8VJmUxWJ8V2X1RNYPiiYgp1RV8ElTLOnbV-F_nYVmVUxrCjfbSq72wU07BFY2OweJGAPrsW9ijNMNmXgvy/s1600/PICT0085.JPG"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEgG3TtkvggfI_S2CGvxh4Ymybsf_6B1Q5tUWqy61BLsMsvbsEba4kmknrbG8VJmUxWJ8V2X1RNYPiiYgp1RV8ElTLOnbV-F_nYVmVUxrCjfbSq72wU07BFY2OweJGAPrsW9ijNMNmXgvy/s200/PICT0085.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5409946832007431906" border="0" /></a>. Logo na ida, tive a companhia de Adriana e Amisael, e depois da doidinha da Drika e da Dulce, sempre quieta nas aulas e muito gente boa. Agradeço Mariana, Romário e Natália pela companhia na descida do Monte Maldito, digo Santo (junto ainda com Taíse e e minha "filhinha" Lorena), na cerveja do domingo e na viagem de volta. Foi ótimo trabalhar com meu grupo, Vanusa, Ícaro, Danielle, Aline (Cíntia, vc também estava? hehe) Agradeço também a todos que me pintaram, passaram pasta de dentes, tiraram fotos impróprias e todo tipo de sacanagens a que fui submetido neste fim de semana :) E, Gislene, você vai aprender Física, relaxa e estuda :o)</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Pude também conhecer as Profas. Gilmara e Larissa e conversar um pouco com o Prof. Juarez. Agradeço aos Profs. Camila, Vicente e Deborah por me ajudarem a "domar os leões"; também ao Prof. Sandro pela idéia e iniciativa para a viagem. <a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgailTxUJxaj5tH6NCmeuUKpfRkTZxUvxDGnuUVQy8PNGZBVJz6_nNjo2VggtuKK5YwE5hchbUfracleOFt96Z5zOd6O16W5jwe2bhopsWa1rJ7Z54D5Eio193nXoYBsLZ1lGZpf8BoICAP/s1600/PICT0053.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgailTxUJxaj5tH6NCmeuUKpfRkTZxUvxDGnuUVQy8PNGZBVJz6_nNjo2VggtuKK5YwE5hchbUfracleOFt96Z5zOd6O16W5jwe2bhopsWa1rJ7Z54D5Eio193nXoYBsLZ1lGZpf8BoICAP/s320/PICT0053.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5409970699423894450" border="0" /></a><span style="font-style: italic;">Last but not least</span>, grande abraço ao Prof. Gredson que, infelizmente para nós, vai seguir seu caminho em outra universidade. De bom humor mesmo depois de 2 dias e meio de estrada, competente e sossegado, só resta desejar boa sorte no seu novo caminho. Mas você vai fazer falta aqui, cara.</div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-47518442400245558632009-11-26T15:33:00.000-03:002009-11-26T15:33:38.765-03:00Gil e as Licenças Flexíveis<div style="text-align: justify;">Continuando, depois de muito tempo, <a href="http://facesdotesseract.blogspot.com/2009/06/licoes-de-gil.html">um post em que comecei a falar sobre liberdade na internet</a>, vou falar um pouco sobre a atuação do cantor <a href="http://www.gilbertogil.com.br/">Gilberto Gil</a>. Digo o "cantor" para diferenciá-lo do (ex-)"Ministro", uma vez que ele nem sempre pôde aplicar na esfera pública as idéias que prega na vida pessoal.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Uma das últimas turnês do cantor chamou-se Banda Larga Cordel; a turnê começou na África, e os shows começavam com a seguinte exortação ao público: "Liguem seus celulares! Filmem o que quiserem, fotografem, gravem suas canções preferidas e coloquem como ringtones nos seus telefones. Participem. Colaborem. Publiquem no site www.gilbertogil.com.br".<br /><br />O que as grandes distribuidoras proíbem, Gil incita...<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Gil avança em direção ao compartilhamento: é possível baixar <span style="font-style: italic;">samples</span> de suas músicas no site, de maneira completamente legal, remixá-los e compartilhar com os outros (até mesmo com Gil, cujo site publicas as remixagens recebidas. Isto pode ser feito de maneira legal porque Gil está disponibilizando suas músicas sob uma licença <a href="http://www.creativecommons.org.br/">Creative Commons</a>.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Como funciona esta licença? Bem, primeiro é necessário saber como funcionam os direitos autorais. No Brasil, a <a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9610.htm">Lei 9.610/98</a> divide os direitos autorais em duas categorias: direitos morais e direitos patrimoniais. Direitos morais dizem respeito à autoria de uma obra: este direito é irrenunciável, você sempre será o autor de suas obras. Já os direitos patrimoniais dizem respeito ao modo como você deseja utilizar sua obra: reprodução, licenciamento, permissão de modificação, etc. A lei é rígida, pois mesmo a reprodução (parcial que seja) de sua obra depende de sua autorização prévia.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Aqui entram as licenças Crative Commons (CC): ao contrário do CopyRight ©, que afirma serem "<span style="font-style: italic;">Todos</span> os direitos reservados ao autor", nas licenças CC você define previamente quais direitos deseja manter reservados, e de quais direitos você abre mão (ou quais tipos de uso você autoriza, antecipadamente, que sejam efetuados); em outras palavras, a licença CC afirma serem "<span style="font-style: italic;">Alguns </span>direitos reservados ao autor", e você pode definir quais são estes direitos.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">As licenças CC funcionam com algumas modalidades de direitos. Por exemplo, você pode usar uma licença "BY" (atribuição) que permite a reprodução de seu texto, mas exige que você seja citado como o autor. Perceba que caso não use uma licença "BY", você permite a reprodução de seu texto sem indicação de autor, mas você ainda <span style="font-style: italic;">é</span> o autor - o direito moral da autoria não é alienável.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Se você não especificar, o conteúdo de sua obra pode ser alterado; caso não deseje isto, você pode escolher a modalidade "ND", que impede alterações. Esta modalidade pode ser útil, por exemplo, para uma obra literária que você deseje manter íntegra.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Outra modalidade diz respeito ao uso comercial de sua obra. Uma licença "NC" indica uso não comercial. Isto significa que qualquer pessoa pode reproduzir sua obra, mas apenas se não for ganhar dinheiro com ela. Se você não especificar esta modalidade, terceiros poderão modificar sua obra e vender o produto (por exemplo, alguém pode pegar um conto meu, quadrinizá-lo e vender sua Graphic Novel para uma editora; ou, ainda, alguém pode samplear trechos de sua música e criar novas músicas, que poderão ser vendidas num CD).</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Finalmente, uma modalidade que tem estreito parentesco com o mundo do Software Livre é a "SA": esta licença exige que quaisquer obras derivadas da sua carreguem a mesma licença. Este é o conceito de <span style="font-style: italic;">herança</span>, que tem relação com certos modos de programação (em especial, a programação Orientada a Objetos). Este tipo de licença faz com que a própria licença Creative Commons se torne tanto mais disseminada quanto as obras originais que a carregam sejam utilizadas.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">As modalidades são utilizadas em conjunto. Veja no primeiro quadro à esquerda a licença utilizada por este blog: BY-NC-SA (Atribuição, Uso Não Comercial, Compartilhamento pela mesma licença). Isto significa que você pode reproduzir qualquer texto deste blog, e mesmo modificá-lo, desde que indique que o autor do original sou eu, desde que não publique em qualquer meio pago (não ganhe dinheiro com isso) e que qualquer produto derivado (qualquer texto seu que tenha como base o meu) deve carregar esta mesma licença BY-NC-SA.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Agora, você pode perguntar, e se você quiser pegar um texto meu, do blog, e utilizá-lo numa apostila (ou seja, ganhar dinheiro com isso)? A licença não permite; é possível fazê-lo? Bem, aí caímos num caso que não foi <span style="font-style: italic;">antecipadamente</span> autorizado. Caímos no escopo da lei e, portanto, você deve agir como agiria no caso de um CopyRight: entre em contato comigo e podemos negociar; eu posso acabar nem cobrando nada de você, ou podemos fazer um contrato. Em outras palavras, as licenças CC não "quebram" a lei, elas caem em seu artigo 29, que afirma a necessidade de "autorização prévia e expressa do autor" para determinados usos.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Gilberto Gil está disponibilizando todas sua discografia neste formato. Ele teve, entretanto, alguns problemas para fazê-lo. Em especial, suas músicas mais antigas não eram mais suas! Ou, pelo menos, o direito de dispor delas como quisesse não era mais seu, pois nos contratos com gravadoras normalmente os autores abrem mão de seus direitos patrimoniais. Gil está regravando novas versões das músicas antigas, para poder disponibilizá-las sob licenças CC.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Em breve publicarei um conto aqui no blog, sob uma licença CC; você poderá modificá-lo, quadrinizá-lo, filmar um curta, fazer um <span style="font-style: italic;">flash</span> com ele, tudo já previamente autorizado. Mas se quiser ganhar uma grana com isso, entre em contato...</div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-57717813546678783502009-11-23T14:00:00.000-03:002009-11-23T14:01:26.900-03:00Boomerite - Um romance que tornará você livre<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-BroFXVtUqQbGtJpfQV-5x0yFwUMsFyLGGT6jZTp9gEUiSlsAPZx0Itm3V0MovSKB5_II3LGaT8g-AX4qfWgTSRIraIzg3gfyd1C7Uhk9bVeiBki3OZTmCkdK_NKLFtkcyRZ751ggcznw/s1600-h/Boomerite.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-BroFXVtUqQbGtJpfQV-5x0yFwUMsFyLGGT6jZTp9gEUiSlsAPZx0Itm3V0MovSKB5_II3LGaT8g-AX4qfWgTSRIraIzg3gfyd1C7Uhk9bVeiBki3OZTmCkdK_NKLFtkcyRZ751ggcznw/s320/Boomerite.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5389869987725815650" border="0" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Este blog anda muito devagar, especialmente por conta de meu trabalho com o doutorado. Mas prometo que agora volto a postar pelo menos uma vez por semana. (Re-)começo com a análise do livro que já encerrei há mais de um mês.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;"><a href="http://www.submarino.com.br/produto/1/297758">Boomerite - Um romance que tornará você livre</a>, de <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ken_Wilber">Ken Wilber</a>, é tudo menos um romance; também não é auto-ajuda, apesar do título (irônico). Trata-se principalmente de uma análise do mundo da alta modernidade em que vivemos.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">O autor (fundador do Centro Integral, que visa desenvolver estudos nas mais diversas áreas, tendo em comum a idéia de que estamos na aurora de uma "evolução" psicológica da humanidade) já escreveu o modesto livro <a href="http://emporioliterario.com.br/ciencias/ciencias/uma-teoria-de-tudo.html">Uma Teoria de Tudo</a> (cujo título ele garante também ser irônico), no qual desenvolve a maior parte de sua filosofia integral. Em Boomerite, sua filosofia é deixada um pouco de lado (aparece no final, na pior parte do livro); o que se lê é uma seqüência de seminários destinados a demonstrar parte de sua tese: que a sociedade atual (em especial a americana) é caracterizada por uma mistura de pluralismo com narcisismo.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Pluralismo, em si, não seria algo ruim, pois permitiria tanto a convivência quanto o diálogo entre pessoas e grupos diferentes. Entretanto, quando combinado com um ego gigantesco, ele termina por impossibilitar o diálogo. Quantas vezes você já percebeu que duas pessoas "parecem" estar dialogando quando, na verdade, cada uma está dizendo coisas que o outro nem ouve?<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">O livro vai, então, apresentando dimensões da vida social em que se percebe este "ego inflado" e pseudo-pluralista. Algumas situações são bastante específicas dos Estados Unidos (como a cultura de vitimização); já outras dizem respeito também à nossa realidade politicamente correta.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">O próprio título do livro é muito específico dos EUA, ao fazer referência à geração do pós-Segunda Guerra (<span style="font-style: italic;">Baby-Boomers</span>); quanto ao subtítulo "um romance que vai fazer você livre" trata-se de uma ironia explicitada no texto: os maiores best-sellers dos EUA na década de 90 traziam em seu nome as palavras <span style="font-style: italic;">você</span> e <span style="font-style: italic;">liberdade</span>.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">O grande problema do livro aparece quando acaba a crítica e são apresentados alguns pressupostos do pensamento integral. Neste ponto do livro, pode-se perceber a fragilidade do argumento e a tendência a se cair em "espiritualismos nova-era". As análises políticas também são sofríveis: considerar o governo FHC, juntamente com propostas da era Clinton e o "novo" conservadorismo de Bush como indicadores de que o mundo ruma em direção a uma ruptura com modos de vida pré-integrais é brincadeira...<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Ainda assim, a leitura vale pela análise crítica do munto atual, inclusive o acadêmico. Você pode não concordar com o remédio proposto (filosofia integral), mas o diagnóstico é bem agudo. Segue um trecho da introdução:</div><br /><span style=";font-family:arial;font-size:78%;"><p></p><p></p><div style="text-align: justify; color: rgb(102, 102, 102);">Algo parece certo: sou um filho desses tempos e eles apontam para duas direções totalmente incompatíveis. Por um lado, ouvimos constantemente que o mundo está fragmentado, dilacerado e torturado, à beira de um colapso, com imensos blocos de civilização massificados, tentando afastar-se uns dos outros, com intenções crescentemente alienadoras, de tal modo que guerras internacionais de culturas são a maior ameaça para o futuro. A tecnologia da era cibernética está evoluindo tão rapidamente que, diz-se, dentro de trinta anos teremos máquinas atingindo inteligência de nível humano, ao mesmo tempo em que avanços em engenharia genética, nanotecnologia e robótica significarão o possível fim de toda a humanidade: seremos substituídos por máquinas ou destruídos por uma peste branca – e que tipo de futuro é esse para uma criança? Em nosso país, a cada dia, a cada hora, a cada minuto, defrontamo-nos com exemplos de uma sociedade que está se esfacelando: uma taxa nacional de analfabetismo que cresceu assustadoramente de 5% em 1960 para 30% hoje; 51% das crianças em Nova York são filhos ilegítimos; milícias armadas espalham-se por Montana tal como bunkers nazistas sobre as praias da Normandia, preparadas para a invasão; uma série de guerras de culturas, guerras de gêneros, guerras de ideologias na academia, que se comparam em malignidade, se não em forma, à agressão multicultural no cenário internacional. O globo ocular de meu pai, na minha cabeça, vê um mundo de fragmentação pluralista, pronto a desintegrar-se, deixando, na sua esteira turbulenta, uma massa desfigurada de sofrimento humano sem precedentes na história.<br /></div><p style="color: rgb(102, 102, 102);"></p><p style="color: rgb(102, 102, 102);"></p><div style="text-align: justify; color: rgb(102, 102, 102);">O olho de minha mãe vê um mundo totalmente diferente, embora tão real quanto o primeiro: estamos nos transformando, paulatinamente, numa família global e o amor, em todas as suas manifestações, parece ser a força propulsora. Veja a história da raça humana: de tribos e bandos isolados a grandes cidades agrícolas, a cidades-estados, a gloriosos impérios feudais, a estados internacionais, à aldeia global. E agora, às vésperas do milênio, estamos em face de uma estonteante transformação nunca antes vista pela humanidade, onde o vínculo humano, tão intenso e tão profundo, descobrirá Eros pulsando gloriosamente nas veias de cada um e de todos, sinalizando a alvorada de uma consciência global que transfigurará o mundo como o conhecemos. Ela é uma pessoa doce e vê o mundo assim.<br /></div><p style="color: rgb(102, 102, 102);"></p><p style="color: rgb(102, 102, 102);"></p><div style="text-align: justify; color: rgb(102, 102, 102);">Não compartilho nenhuma das duas visões; ou melhor, compartilho ambas, o que me torna quase insano. Claramente, forças gêmeas, embora não só, estão devorando o mundo numa escala colossal: globalização e desintegração, amor unificador e desejos corrosivos de morte, delicadeza que aproxima e crueldade que afasta. E o filho bastardo, esquizofrênico, propenso a ataques, vê o mundo através de um vidro trincado, movendo vagarosamente sua cabeça para frente e para trás, esperando que se formem imagens coerentes, imaginando o que significa tudo isso.</div></span>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-42605121629218872432009-10-02T13:00:00.006-03:002009-11-23T14:36:42.910-03:00Paralização no ICADS e movimento estudantil<p></p><p></p><div style="text-align: justify;">O ICADS, Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável, campus da UFBA em Barreiras, foi fechado nas últimas semanas por um movimento dos estudantes. Entre paralização, devolução dos prédios e limpeza, foram duas semanas sem atividades; decidi escrever um <span style="font-style: italic;">post</span> sobre o assunto apenas depois de encerrada a manifestação e após conversar com alguns estudantes (durante o movimento os professores tiveram impedido seu acesso aos prédios do Padre Vieira e Prainha).<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">A questão central do movimento era pedir providências com relação ao curso de Geologia: em especial, há a questão da falta de professores - ainda que outras reivindicações tenham sido levantadas, como falta de livros e laboratórios. As discussões a esse respeito já vinham sendo realizadas, no âmbito do colegiado do curso e junto à Direção do Instituto, mas sem que se chegasse a um resultado considerado favorável pelos alunos. Daí a decisão de paralisar o campus (os dois prédios) e solicitar a presença do reitor; tal decisão foi prontamente apoiada por estudantes dos demais cursos, o que resultou na paralisação quase total das atividades acadêmicas e administrativas.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Em primeiro lugar gostaria de parabenizar os estudantes por alguns fatos ocorridos, começando com a própria emergência (no sentido de emergir, surgir) de um movimento tão amplo em tão pouco tempo. Os interesses de um curso, sendo compartilhados (e examinados, à luz das dificuldades particulares de cada um dos cursos) por um contingente de estudantes forneceu o caldo para a emergência de um todo organizado. Tal todo retroagiu sobre os estudantes - talvez alguns deles tenham entendido agora as "forças sociais" de Durkheim - levando-os a repensarem sua posição e seu papel na universidade. Alguns dos alunos certamente passaram, após o ocorrido, a sentirem-se pertencendo a uma comunidade acadêmica, a uma instituição que já conta com quase 200 anos de história: este é um fruto altamente benéfico da mobilização.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">A organização deste todo em partes especializadas (Comissão de Ética, Comissão de Comunicação, etc...) denota já o embrião de complexidade no movimento: de acordo com algumas teorias sistêmicas, um sistema se divide em subsistemas para enfrentar a complexidade das relações com o ambiente (no caso, ambiente foram as instâncias administrativas - Comissão de Negociação, Colegiado do Curso, Direção, Reitoria -, os demais estudantes, professores e, em última instância, a sociedade, especialmente por meio da mídia); ao se dividir, aumenta sua própria complexidade. Em resumo: um sistema aumenta sua complexidade interna para reagir à complexidade externa.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Ora, o próprio desenrolar dos fatos mostrou que esta organização funcionou relativamente bem: as negociações foram levadas a um termo agora considerado satisfatório para os manifestantes, o campus foi devolvido inteiro e limpo em suas áreas ocupadas e não há relatos - que eu conheça - de abusos e badernas durante a ocupação.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">É claro que nem tudo são flores: como em qualquer negociação desta natureza, há embates, confrontos, desconfianças de parte a parte. Mas, afinal, é disso que é feita a democracia: engana-se quem pensa que este é o regime do consenso; ao contrário, a democracia é o melhor sistema para que se explicitem as divergências, antagonismos e dissenções. E com esta explicitação, freqüentemente surgem rusgas, palavras mais fortes e afirmações impensadas, de parte a parte. O ponto importante aqui é que estas tensões fiquem restritas em escopo (à arena de discussões, que já se encerrou junto com a ocupação) e em profundidade, não chegando a níveis pessoais.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Outro ponto de questionamento diz respeito à participação estudantil nas instâncias representativas formais do ambiente acadêmico. É impossível prever o que teria acontecido (o futuro do pretérito - salvo linguagem auto-defensiva jornalística - é sempre um não-futuro e um não-passado), mas é possível questionar se os estudantes estão exercendo de maneira consciente, organizada e comunicativa seu direito/dever de participação em diretórios/centro acadêmicos, colegiados, congregação. Algumas das reivindicações não poderiam ter sido atendidas por meio da participação política consciente e articulada nessas instâncias?<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Quanto às reivindicações em si, tentarei manter a análise o mais distante possível, por não ser minha área de conhecimento (Geologia) nem um curso cujos alunos tenham contato direto comigo. Mas um exemplo significativo é a questão de falta de livros, até por ser algo que outros cursos enfrentam. Ora, a solicitação de aquisição de livros é responsabilidade dos professores: são eles que devem, em conjunto, criar listas de publicações necessárias ao andamento dos cursos - respeitando as condições financeiras reais de uma universidade pública. São eles que devem enviar ao responsável por compras as listas, com a devida identificação de CatMat e ISBN. O Núcleo Administrativo irá, então, montar um edital de licitação chamando as editoras interessadas a fornecer aqueles livros. Este processo todo é bastante demorado (como qualquer licitação sob a égide da 8.666/93) e ao final dele cabe também ao professor, assim que anunciada a contratação da editora fornecedora dos livros e a entrega de volumes à nossa biblioteca, checar se os livros solicitados vieram o não. Alguns podem estar esgotados; outros podem não ter sido encontrados.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Minha pergunta é: esta tarefa de acompanhamento cabe "apenas" ao professor? Certamente a ele sim, mas também aos estudantes - que, afinal, serão os usuários dos livros. E como? Por meio das instâncias representativas. Para isso é preciso um duplo movimento: colegiados comunicarem-se de maneira mais consistente com discentes e instâncias representativas discentes (DAs/CAs) e discentes organizarem-se em torno de seus representantes (individuais ou coletivos) para o acompanhamento de processos de seu interesse.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Percebam que não prego uma cobrança maior de uma parte ou de outra: prego maior comunicação e interação que terão como conseqüência uma maior inter-relação entre estas partes e certamente a emergência de formas mais adequadas de organização com um melhor fluxo informacional e maior articulação entre todos os interessados. Percebam, ainda, que não prego uma responsabilização de um ou outro agente, mas argumento no sentido da necessidade de uma maior co-participação dos envolvidos. "Isso não é problema meu" nunca resolveu nada.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Todo o dito acima culmina numa questão de postura ante a situação: li em algum lugar (desculpem, não lembro se orkut ou blog do movimento) algo como: os alunos <span style="font-style: italic;">não são</span> responsáveis por encontrar soluções para o problema. Talvez o correto fosse: os alunos não são <span style="font-style: italic;">os únicos</span> responsáveis por encontrar soluções. O que eu gostaria de ter lido (não-passado, esperança-de-futuro): os alunos <span style="font-style: italic;">são não só</span> mas <span style="font-style: italic;">também</span> responsáveis por encontrar soluções...<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Cabe lembrar, finalmente, que todo movimento dessa natureza (estudantil-acadêmica) tem um perfil político e, desta forma, gera impactos na configuração de forças internas à universidade e mesmo externas, junto à comunidade. Assim, seria de fundamental importância para o aprendizado político e cidadão dos estudantes uma análise - realizada por eles próprios - a respeito do campo de forças políticas no qual eles se inseriram ao deflagar tal movimento. É necessário que os alunos reflitam a respeito da apropriação política de seus atos coletivos: sem esta análise, futuros movimentos deste perfil correm o risco de ser insuflados, radicalizados e utilizados com finalidades diversas daquelas almejadas pelos participantes.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Peço desculpas pelo <span style="font-style: italic;">post</span> longo, mas fiquei ruminando estes pensamentos nas últimas semanas. Ainda haveria (ñ-p, ñ-f) muito o que falar (por exemplo, a participação da imprensa local que conseguiu a proza de irritar todas as partes envolvidas), mas agora, é voltar ao trabalho e mãos à obra para que tudo funcione da melhor e mais participativa maneira possível.</div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-68230342347405636942009-09-25T09:20:00.005-03:002009-09-25T10:42:28.539-03:00Tese: Auto-Organização e Identidade Nacional<div style="text-align: justify;">Graças às férias forçadas pelo movimento dos alunos do ICADS, que fecharam o Instituto por alguns dias (e sobre o qual escreverei aqui, na próxima semana, após a reabertura do campus) trabalhei muito no texto de minha tese de doutorado nas últimas semanas. Segue um trecho, ainda meio cru, mas que pode dar uma idéia do que é uma TAO (Teoria de Auto-Oganização):<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">O objetivo final da tese é apresentar/desenvolver uma teoria de auto-organização própria, fortemente baseada nos desenvolvimentos de <a href="http://www.cle.unicamp.br/arquivoshistoricos/?destino=debrun_biografia.html">Michel Debrun</a>, <a href="http://www.portalseer.ufba.br/index.php/rfaced/article/viewFile/2848/2023">Henri Atlan</a> e <a href="http://www.ufrn.br/grecom/edgarmorin.html">Edgar Morin</a>.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">1. Michel Debrun<br /></div><div style="text-align: justify;">Revisaremos em bastante detalhe os artigos do autor relativos ao tema. Temos, inicialmente, dois artigos publicados no primeiro volume do livro <a href="http://www.cle.unicamp.br/principal/autoorganizacao/index.php?pag=col_v18.php">Auto-Organização: Estudos Interdisciplinares em Filosofia, Ciências Naturais e Humanas e Artes</a> e mais um artigo publicado no Encontro com as Ciências Cognitivas, vol. 1 ("<a href="http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=3&url=http%3A%2F%2Fwww.homeopathicum.com%2Farquivos%2Fao_cienciascognitivas.doc&ei=xMG8SrG_LYOltgfU69yKAw&usg=AFQjCNFMlqYmC2t98ddaeh_rlaBZ3jQDkQ&sig2=2y46QJDVN1zks_4L1t633g">Auto-organização e ciências cognitivas</a>"). Destes artigos gostaríamos de destacar as discussões filosóficas sobre o conceito de auto-organização, suas possíveis aplicações, e a abordagem do NEO-MECANICISMO.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">A dinâmica da auto-organização será enfocada dentro de uma abordagem neo-mecanicista. É <span style="font-style: italic;">mecanicista</span> pois:<br /></div><div style="text-align: justify;">a) Ao menos no ponto de partida, não tem finalidade.<br /></div><div style="text-align: justify;">b) Eventuais finalidades se situam ao nível dos elementos.<br /></div><div style="text-align: justify;"> c) Tais finalidades (desejos, projetos, etc.) devem ser encarados como forças que se cruzam, se combatem ou se aliam.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">A abordagem é <span style="font-style: italic;">neo</span> à medida que:<br /></div><div style="text-align: justify;">a) Reserva um lugar às informações que os elementos emitem, recebem e processam ao longo da interação.<br /></div><div style="text-align: justify;">b) Trata-se, então, de modelos ‘tridimensionais’ capazes de integrar as três vertentes (energia, informação, significado). Não apenas modelos energéticos puros, nem “energético-informacionais” (modelos cibernéticos), nem modelos “energético-significacionais” (modelos psicanalíticos).<br /></div><div style="text-align: justify;">c) “É ‘reducionista’ no ponto de partida das explicações (isto é, vai dos elementos para a constituição de uma ‘forma’), mas torna-se progressivamente ‘holística’ em meados da explicação, levando em conta a influência que a sedimentação de modo crescente da forma exerce sobre o comportamento dos elementos”.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">ENERGIA<br /></div><div style="text-align: justify;">As teorias físicas de auto-organização já tratam das propriedades de sistemas físicos. Massa/Energia formam faces intercambiáveis de uma só substância , conforme sabemos desde Einstein. Acreditávamos que a informação dissesse respeito apenas a modos de organização, transmissão, troca de massa/energia.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">INFORMAÇÃO<br /></div><div style="text-align: justify;">De acordo com a proposta de Debrun, a própria caracterização deste mecanicismo como neo exige que se dê um lugar à informação como um dos elementos do modelo; isto significa assumir uma postura não reducionista em relação à informação. Em outras palavras:<br /></div><div style="text-align: justify;">a) A troca de informações não pode ser reduzida à troca de matéria/energia: esta impossibilidade de redução se tornou evidente com o <a href="http://books.google.com.br/books?id=pz-jOtcook8C&pg=PA100&lpg=PA100&dq=%22%22realiza%C3%A7%C3%A3o+experimental+do+experimento+pensado%22%22&source=bl&ots=posKQUpmnX&sig=49SUxtiI7aKHFdkX2V0fIgbmvAw&hl=pt-BR&ei=CMW8SumgIqKCtgexkcmKAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=4#v=onepage&q=%22%22realiza%C3%A7%C3%A3o%20experimental%20do%20experimento%20pensado%22%22&f=false">experimento de Aspect</a> (década de 80), no qual se afastam partículas - em estado de entrelaçamento quântico - a alguma distância e, ao alterar-se o estado quântico de uma delas, a outra sofrerá (imediatamente!) alteração semelhante. [Há ainda o experimento descrito por Penrose - "<a href="http://books.google.com.br/books?id=oPMR-w7WmDoC&dq=o+grande+o+pequeno+a+mente+humana&printsec=frontcover&source=bl&ots=HPMJOdLNoF&sig=jd6y55hYoHSwCNN-zwdnlKjXfLw&hl=pt-BR&ei=csW8Suy8GJKBtwer0umKAw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6#v=onepage&q=&f=false">O grande, o pequeno e a mente humana</a>" - do detector de bombas]. Este(s) experimento(s), associado(s) ao teorema da não-localidade de Bell, leva(m) à conclusão de que há transmissão de informação entre partículas sem que haja troca de massa/energia entre elas e, portanto, que a informação não pode ser reduzida à massa/energia (ainda que seja "transportada" por elas).<br /></div><div style="text-align: justify;">b) A teoria matemática da comunicação de Shannon/Weaver nos fornece o instrumental teórico para tratar a informação como eminentemente sintática; não nos permite, entretanto, trata-la em sua significação (ou em seu potencial significador) e em suas dimensões representacionais e organizacionais. Assim, mesmo metodologicamente a informação não deve ser reduzida a esta dimensão matemática.<br />c) Para além, cabe lembrar que relações causais também apresentam modalidades materiais-energéticas e informacionais, não redutíveis uma à outra. Um exemplo pode ser visto em Silva (1996). Tome um circuito com dois interruptores A e B em paralelo e uma lâmpada na seqüência, nesta ordem. O circuito é montado de tal forma que, quando o interruptor A está fechado, B está aberto, e vice-versa; desta forma, sempre há corrente chegando na lâmpada. Do ponto de vista da causalidade material, a lâmpada está sempre acesa, e não há transmissão de informação. Do ponto de vista da causalidade informacional, entretanto, o sistema nos apresenta 1 bit de informação (duas posições possíveis: A ligado / B desligado e A desligado / B ligado). Isto significa que a causalidade informacional não pode ser reduzida à causalidade material, ainda que a dependência do suporte material continue também neste exemplo.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">SIGNIFICADO<br /></div><div style="text-align: justify;">Da mesma forma que não devemos reduzir a informação (conteúdo) ao seu substrato físico/energético, devemos também considerar o significado como algo que ultrapassa o caráter informacional de seu conteúdo. Informações, recebidas pelo receptor, são recebidas, interpretadas e (re-)significadas por este sob a influência de seu entorno sócio-cultural, das próprias disposições prévias de sua própria mente, seja considerando-o como sistema cognitivo autônomo, seja como sujeito dotado de uma historicidade própria e que influencia o modo como esta nova informação será acoplada ao seu "cenário" mental - e como este se acoplará à nova informação.<br /></div><div style="text-align: justify;">Debrun cita os modelos psicanalíticos como exemplos de modelos energéticos-significacionais. O significado tem um lugar especial no neo-mecanicismo proposto por Debrun: é a única destas grandezas que é gerada, produzida, pela (inter)ação humana. Será necessário perceber que esta grandeza apresenta uma autonomia dependente em relação ao seu substrato bio-antropo-social. Para tanto, será necessário recorrer a conceitos como o de enraizamento, que pressupõe necessidade sem redução (ver Morin).<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Desta forma, tanto física quanto metodologicamente, não devemos reduzir energia, informação e significado a nenhum dos outros elementos, ou combinações destes. Ao contrário, a abordagem deve levar em conta as diversas interações entre elementos diferentes, na criação de uma forma que também não precisa, necessariamente, ser descrita por nenhum dos elementos isolados.<br /></div><div style="text-align: justify;">Por exemplo, no 3o capítulo de minha dissertação mostramos um exemplo, baseado em uma análise apresentada por Edgar Morin em <a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=68429&sid=99819610311925379602086167&k5=157F79F5&uid=">O Paradigma Perdido</a>, mostrando como diversos fatores influíram no processo de cerebralização humana, desde nossos antepassados australopitecíneos até o surgimento do <span style="font-style: italic;">Homo sapiens</span>. Neste processo concorreram:<br /></div><div style="text-align: justify;">- elementos físico-energéticos (alterações físicas no relevo planetário, em especial no continente Africano);<br /></div><div style="text-align: justify;">- alterações ecossistêmicas (avanço da savana/retrocesso da floresta);<br /></div><div style="text-align: justify;">- mutações genéticas (processos físicos - alteração do material genético - e informacionais - alteração do próprio conteúdo do genoma), acompanhadas de modificações anatômicas;<br /></div><div style="text-align: justify;">- alterações comportamentais, alterando padrões de caça, coleta, padrão alimentar (energético-informacional-significacional);<br /></div><div style="text-align: justify;">- paleo-linguagem (informacional-significacional);<br /></div><div style="text-align: justify;">- alterações na estrutura social, hierarquia, família (energético-informacional);<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">REDUCIONISMO X HOLISMO<br /></div><div style="text-align: justify;">O neo-mecanicismo se reflete também na necessidade de assumir uma postura reducionista ao início do processo (ao levar em consideração as interações entre os elementos do sistema) mas que vai se tornando cada vez mais holista à medida em que o processo se desenvolve, refletindo o fato de que uma forma (ao modo de atratores) vai se consolidando e tendo cada vez maior influência no devir do sistema, retroagindo sobre as partes. Mais do que um método de análise (contrapondo reducionismo e holismo) trata-se de perceber que o funcionamento mesmo do sistema, em sua temporalidade própria, vai passando de funcionamentos mais fortemente influenciados pelas partes para dinâmicas cada vez mais determinadas por sua forma gerada.</div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-16961928062425839542009-08-26T11:14:00.003-03:002009-08-26T12:15:50.974-03:00Ônibus 174<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCFJjgsmF7Jykccu-eGY8cx6zhevCVkKVLBytwmzo7tY0oFHFi9PR11i1LnMFoIko3kE65cKM-unEjmCAGnPvd1G3T9j97njORsBcnWxUHkIrTSZL9H6fTzj4ZnauZZVoPi5kSwi0fDG4W/s1600-h/Onibus174.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 225px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCFJjgsmF7Jykccu-eGY8cx6zhevCVkKVLBytwmzo7tY0oFHFi9PR11i1LnMFoIko3kE65cKM-unEjmCAGnPvd1G3T9j97njORsBcnWxUHkIrTSZL9H6fTzj4ZnauZZVoPi5kSwi0fDG4W/s320/Onibus174.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5374279436038438898" /></a><div style="text-align: justify;">Dia 21, sexta-feira passada, a Sessão Solaris apresentou o documentário <a href="http://www.adorocinema.com/filmes/onibus-174/onibus-174.asp">Ônibus 174</a>. O filme começa seco; depoimentos sobre a vida nas ruas são rapidamente substituídos por cenas do seqüestro do ônibus... e depoimentos de policiais, reféns, especialistas. A narrativa é inteiramente construída por meio destes testemunhos, cenas reais do seqüestro e mostra de documentos oficiais; nenhum dos entrevistados é identificado e não há narração em <span style="font-style:italic;">off</span>.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Seco.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Ao contar a história do seqüestrador Sandro Nascimento, o diretor <a href="http://www.filmeb.com.br/quemequem/html/QEQ_profissional.php?get_cd_profissional=PE218">José Padilha</a> (do posterior <a href="http://www.tropadeeliteofilme.com.br/">Tropa de Elite</a>) parte do particular para o geral, realizando uma análise sobre a miséria, a polícia, as instituições carcerárias. A vida de Sandro, que viu sua mãe ser assassinada e sobreviveu à <a href="http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/07/259263.shtml">Chacina da Candelária</a>, foi um entra-e-sai de instituições correcionais. Sempre que estava livre, "no asfalto" - como dizem os habitantes das favelas do Rio de Janeiro, se referindo à vida "lá embaixo" - Sandro se envolvia com roubos, para sustentar sua dependência, da cola ao pó.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">A violência gera violência: isso é lugar-comum. Mas o filme se sustenta na tese de que a <span style="font-style:italic;">invisibilidade</span> gera a violência. Ainda que não seja um conceito dos meus preferidos, esta idéia de invisibilidade social é bastante intuitiva, ao pensarmos em nossas próprias atitudes com respeito de moradores de rua: depois de um tempo, realmente não os vemos, aprendemos a conviver com esses "invisíveis".<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">O documentário consegue nos deixar tensos - apesar de já conhecermos o resultado final - ao construir sua narrativa intercalando entrevistas com reféns e suas cenas no interior do ônibus. Aliás, vale lembrar que outra dimensão explorada por Padilha é a mídia. O ônibus é sempre visto cercado de repórteres e câmeras, o que cria dois níveis de realidade: a "realidade" dentro do ônibus e a "realidade" mostrada pelas câmeras. A polícia teve várias oportunidades de atirar no seqüestrador, mas não o fez para não expor o público a um espetáculo de sangue e massa encefálica ao vivo em suas TVs. A presença da imprensa ali, aliás, é culpa da própria polícia, que deveria ter criado um cordão de isolamento muito mais distante do cenário do seqüestro, até mesmo para proteger as pessoas.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Da mesma forma que a violência e o abandono só nos atingem em cheio quando transpostas do mundo para um filme, a realidade "dentro do ônibus" se distingue da "realidade" nas telas da TV. Como eu disse em <a href="http://facesdotesseract.blogspot.com/2009/08/clockwork-orange-laranja-mecanica.html">outro <span style="font-style:italic;">post</span>, sobre o filme Laranja Mecânica</a>, citando o protagonista Alex: "Engraçado como as cores do mundo real só parecem realmente reais quando você as videia na tela".<br /></div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-2653783472146781222009-08-24T10:56:00.003-03:002009-08-24T12:50:24.773-03:00Um Louco Sonha a Máquina Universal<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzff5VhoOzfdDGz4pbLf61XyW6_WseWP3_G1JaNEH6YD_wR43N20f2N5KRnyfcA7dhxZeqt1BzG-dnYeRhr72uQbjG6rzwdj17Vx615nU-RrVMzFSRF5wFUbNnsgRLxUAXq5yFaH4ZPtXy/s1600-h/cia_letras_louco_sonha.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 200px; height: 311px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzff5VhoOzfdDGz4pbLf61XyW6_WseWP3_G1JaNEH6YD_wR43N20f2N5KRnyfcA7dhxZeqt1BzG-dnYeRhr72uQbjG6rzwdj17Vx615nU-RrVMzFSRF5wFUbNnsgRLxUAXq5yFaH4ZPtXy/s320/cia_letras_louco_sonha.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5373530826042092450" border="0" /></a><div style="text-align: justify;">A metamatemática é algo como uma "metodologia das ciências dedutivas", nas palavras de Hilbert, ou, de modo mais simples, ela estuda a matemática, utilizando instrumentos da lógica e da própria matemática. Kurt Gödel e Alan Turing são dois dos maiores nomes da metamatemática e têm partes de suas vidas contadas no livro "Um Louco Sonha a Máquina Universal", de Jenna Lewin.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Alan Turing é um dos pais da ciência da computação. Seu artigo de 1936, "Sobre os números computáveis com a aplicação ao problema da solucionabilidade", mostrava que todas funções computáveis poderiam ser reduzidas a procedimentos simples sobre uma fita (infinita), como um 'programa' sendo executado e alterando uma 'memória'. As chamadas Máquinas de Turing - presentes, aliás, no título original (<span style="font-style:italic;">A Madman Dreams of Turing Machines</span>) do livro - são apenas teóricas, mas a partir deste desenvolvimento abstrato foi possível construir as máquinas reais que são os computadores. Turing trabalhou também na contra-espionagem inglesa durante a Segunda Guerra Mundial, na decifração de mensagens codificadas interceptadas dos nazistas. Mas Turing é mais conhecido popularmente por causa do teste que propôs para sabermos se um computador é consciente ou não: o chamado Teste de Turing afirma que é necessário, para demonstrar a consciência em uma máquina, que esta seja capaz de nos convencer, conversando conosco tempo suficiente, que estamos na verdade conversando com um ser humano.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Já Gödel é conhecido por seu Teorema da Incompletude: qualquer sistema formal capaz de expressar a aritmética não pode ser ao mesmo tempo completa e consistente. <span style="font-style:italic;">Teoria completa</span> é aquela em que todas as proposições verdadeiras podem ser demonstradas <span style="font-style:italic;">Teoria consistente</span> é aquela na qual não é possível demonstrar uma proposição e sua própria negação. Ou seja, o que o teorema da incompletude demonstra é que sempre há em uma teoria consistente proposições verdadeiras que não podem ser demonstradas ou negadas. A conseqüência disso é que a aritmética não pode demonstrar sua própria consistência, sendo necessária a utilização de um sistema mais amplo (uma extensão da aritmética) para fazê-lo.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Mas estes desenvolvimentos são descritos apenas de passagem pela autora. O livro de Lewin segue o caminho de tentar descrever a psicologia dos personagens principais, por meio da apresentação de alguns eventos ocorridos em suas vidas, intuindo quais disposições e estados mentais dos personagens os fariam desenvolver suas teorias. Desta forma, a narrativa é bastante fragmentada, não permitindo que nos identifiquemos com nenhum dos personagens principais. Esta identificação seria, de qualquer forma, bastante difícil, pela estranheza das próprias pessoas que foram Turing e Gödel.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Estranhamente, os personagens secundários são os mais interessantes do livro. As relações de Gödel com membros do Círculo de Viena, e indiretamente com Wittgenstein dominam boa parte do livro. No caso de Turing, suas paixões platônicas e 'reprováveis' - ele era homossexual - são tratadas com mais detalhe. É enfatizado seu trabalho na decifração de código do Enigma - máquina de codificação utilizada pelos nazistas - mas sem uma descrição detalhada sobre como este trabalho era realizado.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Turing acaba condenado (homossexualismo era crime na Inglaterra) à castração química. Gödel se torna paranóico, achando que seria envenenado. Cada um a seu modo, ambos se suicidam.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Enquanto o suicídio de Turing - comendo uma maça envenenada ao estilo Branca de Neve - aparece como uma conseqüência inexorável, mecânica do desenvolvimento de sua vida, o lento suicídio de Gödel representa uma forma de demonstrar seu livre-arbítrio: cinco meses praticamente sem comer, uma inanição auto-infligida pela paranóia e pelo desejo de demonstrar que ele podia, sim, realizar escolhas, ainda que impossíveis. Retomarei este ponto quando terminar o próximo livro de minha lista (<span style="font-style:italic;">Boomerite: um romance que tornará você livre<span style="font-style:italic;"></span></span>, de Ken Wilber), no qual o personagem principal afirma que o verdadeiro teste para saber se uma máquina é consciente seria saber se ela pensa seriamente em suicídio...<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Infelizmente, o livro deixa a desejar. Eu adoraria ver uma obra que conseguisse explicar, de maneira simples para um leitor esclarecido, o funcionamento de Máquinas de Turing, os métodos de decifração utilizados por ele durante a guerra, o teste de Turing (que não é tão simples como eu descrevi acima). Os teoremas de incompletude de Gödel também podem ser descritos de maneira simples, ainda que suas conseqüências ainda gerem discussões até entre os matemáticos e lógicos. Não foi dessa vez.</div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-91151166028600474752009-08-19T10:14:00.006-03:002009-08-19T12:15:18.578-03:00A Clockwork Orange (Laranja Mecânica)<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS5xmqpyPKQueLiEw7GAW9VxVfLUmXSAD2wLFO3Hs4-dLM6Maw0uJAtPKAMR8Jl8cH3-VOHSZ-Ydvp8pJQZsL4qX0HS6bI2HWeZYQr9woTOPM4TwsZFqLqC5qaGx1VG0yDxkLL7CsvTSIH/s1600-h/a+clockwork+orange.gif"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 226px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS5xmqpyPKQueLiEw7GAW9VxVfLUmXSAD2wLFO3Hs4-dLM6Maw0uJAtPKAMR8Jl8cH3-VOHSZ-Ydvp8pJQZsL4qX0HS6bI2HWeZYQr9woTOPM4TwsZFqLqC5qaGx1VG0yDxkLL7CsvTSIH/s320/a+clockwork+orange.gif" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5371664001862376498" border="0" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Quase um mês após a última postagem, volto a este blog. Férias (curtíssimas), início de aulas, retorno ao doutorado, tudo isso me afastou por um tempo. Mas agora prometo ao menos um <span style="font-style: italic;">post</span> por semana.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Para os que não sabem, o Núcleo de Humanidades da UFBA em Barreiras promove todas as sexta-feiras a "Sessão Solaris", composta pela apresentação de filmes e realização de seminários e mesas redondas; as sessões são abertas a todos. Neste mês de agosto o tema é "Violência", e nada melhor para começar do que o filme Laranja Mecânica (<span style="font-style: italic;"><a href="http://www.imdb.com/title/tt0066921/">A Clockwork Orange</a><span style="font-style: italic;">).<br /></span></span></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Aos que não viram o filme, aviso: há muitos <span style="font-style: italic;">spoilers</span> neste texto. Prossiga por sua conta e risco...<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Este não é um filme fácil: gírias inventadas (pelo escritor <a href="http://www.anthonyburgess.org/html/03bio00-index.shtml">Anthony Burgess</a>, autor do livro original), violência, estupros, lavagem cerebral. Tive até um certo receio de passá-lo no Solaris, já que nossa principal audiência são nossos alunos, alguns bastante novos (abraços ao pessoal do BI, sempre presente). Mas a recepção foi boa: não sei se o filme perdeu um pouco de seu impacto devido à banalização da violência atualmente, mas vá lá: o fato é que o filme foi bem recebido. A direção de <a href="http://www.imdb.com/name/nm0000040/">Stanley Kubrick</a> ajuda muito: a mistura de um cenário meio pós-moderno com a música clássica criaram uma atmosfera que me traz à mente filmes como <a href="http://www.imdb.com/title/tt0083658/">Blade Runner</a>, e o cenário <a href="http://www.comciencia.br/reportagens/2004/10/11.shtml">cyberpunk</a> que só na década de 80 vai fazer o seu <span style="font-style: italic;">debut</span> na literatura e no cinema. Coisa de precursor mesmo.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">O protagonista Alex (o carismático <a href="http://www.imdb.com/name/nm0000532/">Malcolm McDowell</a>, que protagoniza outro clássico esquisitão, <a href="http://www.imdb.com/title/tt0080491/">Calígula</a>, e hoje pode ser visto como vilão de séries como Heroes) lidera uma gangue violenta, num futuro próximo - quer dizer, futuro de 1971, quando o filme foi lançado - e adora <a href="http://www.lastfm.com.br/listen/artist/Ludwig%2Bvan%2BBeethoven/similarartists">Beethoven</a>. Nesta primeira parte do filme, acompanhamos uma bela noite de Alex e seus <span style="font-style: italic;">drugues</span>: espancamentos, brigas de gangue, estupros... Encurtando a história, ele acaba preso e submetido a um tratamento experimental, a <span style="font-style: italic;">Técnica Ludovico</span> (uma quase-citação a <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Pavlov">Pavlov</a>). Alex é induzido, por esta técnica, a não conseguir suportar qualquer tipo de violência, passando fisicamente mal quando exposto a ela.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Já contei demais sobre o filme, mas o suficiente para fazer algumas reflexões. O filme pode ser interpretado em vários níveis, desde o mais raso e vermelho (cor do início e do final na tela) de um filmes simplesmente violento, até conceitos mais elaborados a respeito da própria violência e do livre-arbítrio.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Questão: após a lavagem cerebral, Alex conseguiria assistir ao filme que conta sua própria história?<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Nós conseguimos. Talvez isso signifique que temos uma certa "tolerância" à violência. Pensando bem, isso deve ser verdade, pois, do contrário, não conseguiríamos sobreviver num mundo cheio de violência natural e numa sociedade repleta de violência criada por nós mesmos. Assim, mesmo que fiquemos enojados com alguns acontecimentos (do filme ou da vida) há um certo nível de violência que podemos agüentar. Este nível muda? Certamente! Momentos anteriores na história humana certamente eram mais violentos (no que diz respeito à violência indivíduo-indivíduo); com a modernidade, passamos a crer que o Estado seria o único detentor legítimo da violência (usando a formulação de Max Weber), o que levou a ficarmos mais chocados com a modalidade indivíduo-indivíduo, mas permitiu também que o século XX tenha sido prodigioso em violência de massa (guerras mundiais, genocídio).<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">É tirada de Alex a capacidade de "não-se-chocar" com a violência. É tirado seu livre-arbítrio. Em nenhum momento ele é levado a julgar seus atos, é apenas impedido de executá-los. E aqui temos a ambigüidade - e genialidade - do título: ao mesmo tempo que a expressão "laranja mecânica" é usada (ao menos no livro de Anthony Burgess) como uma gíria para "porra-louca", o termo evoca a imagem de algo suculento e colorido, mas de fato apenas um brinquedo mecânico nas mãos de Deus ou do Demônio (e aqui estou parafraseando o próprio Burgess). Alex é esse ser híbrido ("hibridizado"), ser vivo que foi mecanizado por métodos pavlovianos. Não sei porque me vem à cabeça a imagem de Supernanny...<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Parece muito fantasioso? Deixo vocês com minha nota (é, sou metido a crítico, esse é nota 10!) e com uma frase do próprio Alex, para reflexão:<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: center;"><span style="color: rgb(255, 0, 0);">"It’s funny how the colours of the real world only seem really real when you viddy them on the screen."<br />(Engraçado como as cores do mundo real só parecem realmente reais quando vocês as videia na tela)</span></div>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-30560244046340089872009-07-20T16:04:00.005-03:002009-07-20T16:52:05.624-03:00Tabocas do Brejo Velho<iframe marginheight="0" marginwidth="0" src="http://maps.google.com.br/maps?f=q&source=s_q&hl=pt-BR&geocode=&q=varzea+comprida+tabocas+do+brejo+velho&sll=-12.706451,-44.009149&sspn=0.013857,0.01929&ie=UTF8&t=h&ll=-12.701385,-44.008999&spn=0.025119,0.025749&z=14&output=embed" scrolling="no" width="300" frameborder="0" height="300"></iframe><br /><small><a href="http://maps.google.com.br/maps?f=q&source=embed&hl=pt-BR&geocode=&q=varzea+comprida+tabocas+do+brejo+velho&sll=-12.706451,-44.009149&sspn=0.013857,0.01929&ie=UTF8&t=h&ll=-12.701385,-44.008999&spn=0.025119,0.025749&z=14" style="color: rgb(0, 0, 255); text-align: left;">Exibir mapa ampliado</a></small><br /><div style="text-align: justify;">Você conhece Várzea Comprida? Talvez Portobelo? Santa Helena, também chamada de Maricota? Bom, eu também não conhecia, até sexta-feira da semana retrasada. São comunidades presentes na zona rural de Tabocas do Brejo Velho, município aqui da região Oeste da Bahia.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Fomos lá a convite do Sr. Custódio, morador de Várzea Comprida e representante da Sociedade Civil no Comitê de Bacia do Rio Grande; uma das nascentes deste afluente do São Francisco brota ali, em Santa Helena.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Conta-se que, uns dez anos atrás, o prefeito instalou uma bomba d'água próximo à nascente do Rio Grande. Esta bomba quebrou, alguns anos depois, já com outro prefeito no cargo, inimigo do anterior. Pois bem, durante este tempo todo, com outros eleições e outro prefeito, ninguém foi arrumar a tal bomba.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Além disso, os moradores também afirmam que o fluxo desta nascente vem diminuindo ano após ano, em especial depois que a área acima da nascente foi desmatada para agricultura.<br />Um registro interessante: vimos várias cisternas (de lona), novinhas, nas casas de Santa Helena. A nascente ali, sem uso por conta da bomba d'água quebrada, sua água sendo usada para lavar roupa e o povo esperando chover para ter água para beber. Insano...<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Outro ponto digno de nota é a utilização de cisternas de lona. A população local se torna dependente de manutenção e materiais de fora. Pelo que conversei com os moradores, a capacitação se resumiu a explicar a necessidade de descarte da primeira água.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Eu acredito muito mais num modelo que capacita a população a construir suas próprias cisternas (de placa, calçadão, etc.) e a cuidar ela própria de sua manutenção. Além disso, quando o povo é ensinado a fazer sua própria cisterna, é possível que eles mesmos ensinem a outras famílias que não foram beneficiadas por nenhum programa a construírem suas próprias, até mesmo em mutirão. Finalmente, se a população é responsável pela construção e reaplicação do modelo, abre-se a possibilidade de que se desenvolvam novas técnicas de construção, utilizando materiais e conhecimento locais.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Talvez a Universidade possa ajudar estas comunidades de algumas formas. É claro que o ideal seria resolver a questão da bomba próxima à nascente, mas mesmo ali os pesquisadores poderiam avaliar qual o nível seguro de retirada de água, sem que se comprometa o fluxo do rio e a quantidade de água subterrânea, levando em consideração o regime de chuvas. Além disso, um projeto de reflorestamento da beira da chapada pode aumentar o fluxo da nascente, uma vez que parte de sua recarga deve vir da água absorvida pelo solo acima.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Mesmo no que diz respeito às cisternas, temos condições de ajudar. Poderíamos levar químicos e biólogos para as comunidades, e tentar criar testes simples, utilizando matéria-prima local, para avaliar a qualidade da água das cisternas. Isto possibilitaria o controle da própria população sobre a qualidade de sua água. Técnicas de purificação certamente demandariam mais trabalho, mas só a possibilidade de testar sua água já seria um avanço.<br /></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Precisamos de voluntários...<br /></div><p></p>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-10355062032736849772009-07-15T18:18:00.005-03:002009-11-23T20:36:55.734-03:00ExpoBarreiras 2009 - Post 1<p></p><div style="text-align: justify;">Durante a semana passada aconteceu na cidade a ExpoBarreiras, feira de negócios da região. Apesar de algumas coisas típicas de feiras de cidades do interior - parque de diversões, rodeio, feira agropecuária - indústria e comércio da região estavam bem representados.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">A UFBA ficou com um <span style="font-style: italic;">stand</span> pequeno neste ano, mas marcou sua presença.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Fiquei muito bem impressionado com o policiamento e com a comida: muitos restaurantes da cidade se transferiram para a Expo durante esta semana. Quanto à música, bom, não são meus estilos preferidos. Mas dois pontos são dignos de nota:</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">- Certa hora, começou a tocar um rock bem bonzinho. Fiquei animado e me aproximei do palco; obviamente, algo deveria estar errado... e estava: era rock gospel. Pior que isso: foi seguido por axé gospel. Arghhhh!</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">- Continuando no axé: fiquei um pouco no show da Daniela Mercury. Ela mais falou que cantou. Fez piadinhas sem graça que certamente ofenderam muita gente. Chamou a prefeita para cantar e... lá vem mais gospel. Eu, pelo menos, dancei um monte (fazer o quê???). Tomara que nenhum aluno tenha filmado minha perfirmance em "Rapunzel", mas, se gravou, mande para mim que eu publico aqui!</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;"><span style="color: rgb(153, 153, 153);">No próximo </span><span style="font-style: italic; color: rgb(153, 153, 153);">post </span><span style="color: rgb(153, 153, 153);">sobre a ExpoBarreiras vou falar sobre os </span><span style="font-style: italic; color: rgb(153, 153, 153);">stands</span><span style="color: rgb(153, 153, 153);"> do Sebrae, de agricultura familiar e artesanato.</span> [UPDATE: não o fiz...]<br /></div><p></p>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-3669651281742613512009-07-11T19:39:00.002-03:002009-07-20T16:51:45.513-03:00Semana intensa...... cheia de pequenas coisas para fazer, que tomam muito tempo. Vou precisar de uns 3 <span style="font-style: italic;">posts</span> seguidos para contar tudo, então vamos de leve.<p></p>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-46416762805187111402009-07-02T15:14:00.003-03:002009-07-15T18:37:04.538-03:00Tesseract - Post 1<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://img36.imageshack.us/i/tesseract1.gif/"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 150px; height: 105px;" src="http://img36.imageshack.us/img36/3311/tesseract1.gif" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5351672580005000690" border="0" /></a><br /><p></p><div style="text-align: justify;">Pense na seguinte seqüência: ponto (dimensão 0, adimensional), segmento (dimensão 1, unidimensional), quadrado (dimensão 2, bidimensional), cubo (dimensão 3, tridimensional)...</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Supondo - ou mesmo postulando - a existência de uma quarta dimensão (de espaço, não falo aqui do tempo), seria justo imaginar um objeto em 4 dimensões (tetradimensional) que continue a seqüência acima? Sim, e este objeto é chamado de hipercubo.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Alguma matemática:</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">- Um segmento (dimensão 1) é definido por 2 pontos (dimensão 0).</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">- Um quadrado (dimensão 2) é definido por 4 segmentos (dimensão 1).</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">- Um cubo (dimensão 3) é definido por 6 quadrados (dimensão 2).</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">É fácil encontrar o padrão: um objeto de dimensão <span style="font-style: italic;">n</span><span><span> é definido por 2.</span></span><span style="font-style: italic;"><span style="font-style: italic;"><span style="font-style: italic;">n</span></span></span><span><span><span><span> objetos de dimensão </span></span></span></span><span><span><span><span>(</span></span></span></span><span style="font-style: italic;"><span style="font-style: italic;"><span style="font-style: italic;"><span style="font-style: italic;"><span style="font-style: italic;">n</span></span></span></span></span><span><span><span><span><span><span>-1).</span></span></span></span></span></span><br /><span><span><span><span><span><span>Então podemos começar a descrever o hipercubo como</span></span></span></span>o objeto de 4 dimensões definido por 2.4 = 8 objetos de 3 dimensões, 8 cubos.</span></span></div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;"><span><span>Veja a figura no início desta postagem: aquele é um <span style="font-style: italic;">tesseract</span>, ou um hipercubo "desmontado". Farei outro <span style="font-style: italic;">post</span> descrevendo melhor este "desmonte". Mas, por enquanto, conte quantos cubos há na figura: há algo errado?</span></span></div><p></p>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-63006454112852576202009-06-28T21:29:00.009-03:002009-06-29T13:04:26.167-03:00Lições de Gil<p><div style="text-align: justify;">Em matéria no ótimo <span style="font-style: italic;">blog</span> <a href="http://www.trezentos.blog.br/">Trezentos</a>, [o também ótimo] <a href="http://lattes.cnpq.br/6800442072685268">Sérgio Amadeu</a> mostra uma foto do presidente Lula junto com Peter Sunde, um dos fundadores do<span style="font-style: italic;"> site</span> de compartilhamento de arquivos <a href="http://thepiratebay.org/"><span style="font-style: italic;">PirateBay</span></a>, e recém-condenado pela justiça sueca por pirataria. Citando Lula, por meio de Amadeu <a href="http://www.trezentos.blog.br/?p=1980">neste post</a>, ao defender a liberdade na rede e a importância da colaboração: “a internet deve continuar livre”… “No meu governo é proibido proibir.”…”A liberdade é fonte da criatividade”.<br /><br />Eu posso estar redondamente enganado, mas acho que o presidente Lula aprendeu um bom tanto sobre liberdade de informação com o ex-Ministro Gilberto Gil e também com o próprio Sérgio Amadeu. Explico....<br /><br />Ao assumir a pasta da Cultura, Gil era considerado uma piada nos "círculos internos" do governo. Ele era o primeiro colocado na aposta "qual-Ministro-cai-primeiro" (ao fim e ao cabo, o primeiro a cair foi o ministro de Ciência e Tecnologia, "<a href="http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=11684">Bob Bomba</a>"). Rapidamente mostrou que tinha conteúdo e vontade política para fazer muito (em algumas áreas, outras talvez sejam criticáveis mesmo). Logo nos primeiros meses do primeiro mandato do presidente Lula, Gil foi até a <a href="http://www.finep.gov.br/">FINEP</a> (Financiadora de Estudos e Projetos, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia) com o cantor Lobão, trazendo uma proposta (no mínimo) interessante. A idéia era criar quiosques nos quais você poderia escolher, entre um catálogo de músicas de artistas nacionais, aquelas que você quisesse, e a máquina gravaria um CD com essas músicas. Pense numa <span style="font-style: italic;">jukebox</span> que grava um CD com as músicas que você escolheu.<br /><br />Com esse sistema, você poderia "pular" a presença da gravadora (que fica com a maior parte do dinheiro que você paga num CD) e colocar o artista em contato direto com o público. A máquina seria equipada com um contador, que diria exatamente quantas vezes a música X do cantor Y seria gravada, o que daria o cálculo exato dos Direitos Autorais relativos a cada música. Ao cobrar apenas o valor da mídia (CD virgem, baratíssimo) e o direito autoral de compositores e músicos, o preço cairia para um valor próximo ao de um CD pirata!<br /><br />Pense bem: entre comprar um CD pirata, com as músicas que já estão lá, e um CD com as músicas que você quer, pelo mesmo preço, o que você escolheria???<br /><br />É óbvio que este projeto não vingou. Além de muitos interesses em jogo, uma questão mais técnica: a FINEP é uma "financiadora" de projetos, não "executora". A empresa não dispunha dos meios tecnológicos para fazer a coisa acontecer...<br /><br />Mas o importante foi conhecer a disposição do Ministro da Cultura em quebrar o domínio das gravadoras sobre o comércio de música e (depois ficou claro) de cultura. O "Ministro" Gil não pôde defender a informação livre de maneira mais aguda, mas o "cantor" Gil está regravando suas músicas antigas e as disponibilizando em licenças <a href="http://www.creativecommons.org.br/">Creative Commons</a> (a mesma que você vê aqui ao lado).<br /><br />Próximos <span style="font-style: italic;">posts</span> sobre o assunto (com o marcador <a href="http://facesdotesseract.blogspot.com/search/label/geek"><span style="font-style: italic;">geek</span></a>):<br />- Mais sobre "o cantor" Gilberto Gil e licenças flexíveis;<br />- Mais sobre Sérgio Amadeu, o processo internacional contra ele e sua passagem pelo ITI;<br />- O que significa a licença Creative Commons.<br /><br />Abraços<br /></div><br /></p>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1922405318821143698.post-27792989916151563012009-06-26T13:35:00.002-03:002009-06-27T20:08:47.305-03:00Perfume: The Story of a Murderer<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij3GBYdLNCQKx122yEela-vubBkSnf5hoR6beQQurOMmxI_KjI7QCZofJ6FKx5Vd7U8Eb9iOkpqgC4J3YBS3Dh4f0B6OEQB4kqfENeytPI6AbEn6PcJdZiKoKgBpPMoXukvq0VFHK89xkA/s1600-h/Perfume.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 99px; height: 140px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij3GBYdLNCQKx122yEela-vubBkSnf5hoR6beQQurOMmxI_KjI7QCZofJ6FKx5Vd7U8Eb9iOkpqgC4J3YBS3Dh4f0B6OEQB4kqfENeytPI6AbEn6PcJdZiKoKgBpPMoXukvq0VFHK89xkA/s320/Perfume.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5351672580005000690" border="0" /></a><br /><p><div style="text-align: justify;">Há algum tempo queria ver o filme <a href="http://www.imdb.com/title/tt0396171/">Perfume: The Story of a Murderer</a> (2006). Não tive a oportunidade de ler o livro de Patrick Suskind - que foi um grande sucesso alguns anos atrás - mas sempre ouvi falar bem dele; o filme também havia rendido algumas boas críticas. Quando soube que o diretor era <a href="http://www.imdb.com/name/nm0924210/">Tom Tykwer</a>, fiquei ainda mais empolgado: seu <a href="http://www.imdb.com/title/tt0130827/">Lola rennt</a> ("Corra, Lola, Corra") é um dos melhores filmes da (coalhada de filmes bons) nova safra de cinema alemão. Algum dia desses vou rever esse filme, e passo uma resenha para vocês, mas hoje vou falar sobre Perfume, que foi exibido no Telecine Cult esta semana.</div></p><br /><p><div style="text-align: justify;">Jean-Baptiste Grenouille é o homem com o olfato mais apurado em todo o mundo. Ironicamente, nasce em meio a um mercado de peixe em Paris no século XVIII, com odores fétidos o cercando por todos os lados; esta cena inicial é impressionante, talvez apenas superada pelo momento em que ele percebe que os cheiros são efêmeros e por sua "execução" em praça pública (não descrevo em mais detalhes estas cenas para evitar <span style="font-style: italic;">spoilers</span>). O narrador em <span style="font-style: italic;">off </span>(o sempre ótimo <a href="http://www.imdb.com/name/nm0000457/">John Hurt</a>, imprimindo um clima de "conto-de-fadas" à história) indica que aquele bebê quase-natimorto somente sobrevive por uma escolha da vontade, sendo que os cheiros o estimularam a não se deixar morrer.</div></p><br /><p><div style="text-align: justify;">Em sua adolescência, Grenouille (agora já interpretado com frieza pelo bom e pouco conhecido <a href="http://www.imdb.com/name/nm0924210/">Ben Whishaw</a>) vai trabalhar num curtume, um dos lugares mais mal-cheirosos que pode haver. Mas é neste trabalho que tem a oportunidade de conhecer o mestre perfumeiro Baldini (<a href="http://www.imdb.com/name/nm0000163/">Dustin Hoffman</a>, um pouco caricato demais, em minha opinião) e tem o rumo de sua vida alterado drasticamente.</div></p><br /><p><div style="text-align: justify;">O que mais me impressionou foi a idéia de uma moralidade baseada no olfato. Acho até que vou escrever um post mais longo sobre o tema, mas só para dar uma palhinha: Grenouille busca compilar todos os odores do mundo, este é seu objetivo inicial. Ele deseja que nunca mais se perca um cheiro. Seu desejo é capturar, manter, preservar a essência das coisas para sempre. Dada esta premissa, todos seus atos que o levem mais próximo a seu objetivo são considerados (ao menos por ele) como bons. Até mesmo matar...</div></p><br /><p><div style="text-align: justify;">Posteriormente, ele percebe que seu objetivo de vida deve ser criar o perfume mais perfeito do mundo: ele deseja capturar a essência do <span style="font-style: italic;">Belo</span>. Pode haver objetivo mais moral que este? Mesmo que para atingi-lo seja necessário perseguir e matar pessoas inocentes? Vou desenvolver essas idéias um pouco mais em um <span style="font-style: italic;">post</span> mais extenso, em breve.</div></p><br /><p><div style="text-align: justify;">Encerrando, o final do filme parece ser assunto controverso. Sem cair em (mais) <span style="font-style: italic;">spoilers</span>, acho mesmo que deixou a desejar; o ritmo surrealista que vinha sendo impresso pelo clímax é rompido com um anticlímax talvez desnecessário. Ainda assim, para quem gosta de notas, lá vai uma: 7,5.</div></p>Márcio Carvalhohttp://www.blogger.com/profile/10134590096450703640noreply@blogger.com2