quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Boas Festas

Segue mensagem de meu grande amigo Rodrigo, faço minhas suas palavras e voto.

Para aqueles que sempre se emocionam e me pedem repetidamente (valeu Rafa), segue meu tradicional voto de boas festas.




Abraços
rodrigo
P.S.: Talvez algumas pessoas mais jovens não entendam completamente a piada devido ao advento da tecnologia de votação eletrônica que aposentou as charmosas e democráticas cédulas de papel. Democráticas porque você podia votar efetivamente em quem quisesse. Ou escrever um também democrático palavrão.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Links Científicos

Para os biólogos: Cell Size and Scale
Para os químicos: Tabela Periódica (Portuguese Periodic Table)
Para os computeiros: Historical Browser Statistics
Para os psicólogos: Bob McFerrin Fucks With Your Mind
Para os matemáticos: (1-(|x|-1)^2)^0.5=-2.5(1-(|x|/2)^0.5)^0.5 - Wolfram|Alpha

Para os físicos: Interference
Para os sociólogos: Rede de Tecnologia Social
Para os saudosistas: Os Cientistas (quase chorei quando encontrei este site)
Para todos: Homo erectus (quase chorei... de rir)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Os Sete


O mercado editorial brasileiro, apesar do crescimento recente, ainda é fraco em lançamentos no segmento conhecido por "Ficção Científica, Horror e Fantasia". Por esse motivo, fiquei bastante empolgado quando as listas de discussão e o fandom da área começaram a falar do escritor André Vianco, "o Stephen King de Osasco". Decidi dar minha contribuição e aproveitar para voltar a ler um livro de horror - há tempos li meu último Stephen King. Comprei Os Sete, romance sobre antigos vampiros portugueses que são encontrados presos dentro de uma caravela naufragada no litoral brasileiro.

A história é bem interessante, com uma boa divisão de linhas narrativas que voltam a se amarrar do meio para o fim do livro. A descrição das partes sanguinolentas também é bastante gráfica, e a idéia geral do livro se sustenta. Vianco é um contador de história imaginativo e seus vampiros (cada um com uma "habilidade" especial) funcionam como um time quase invencível.

Mas há um problema, na minha opinião, sério: o livro é muito mal escrito. Há alguns momentos em que parece que o autor é incapaz de usar orações subordinadas, coodenadas, ou apenas longas. Durante a leitura, eu chegava a rezar por um ponto-e-vírgula, um dois-pontos, um mero "e"... Parece bobagem, mas vá ler quase 400 páginas de: "Eles estavam no cais. O cais estava frio. O vento frio agitava seus cabelos. As ondas quebravam com força". Haja paciência! Depois de umas 20 páginas disso, a cada ponto final eu tinha um sobressalto.

O autor é um ótimo contador de histórias, mas talvez seja um cara que funciona melhor mestrando (ou mestreando) um RPG. Por exemplo, um vampiro vai tentar abrir um enorme portão enferrujado; inicialmente não consegue, então "o monstro usou sua força vampírica para abrir o portão". Quase posso me ver numa mesa de Vampiro: a Máscara, participando do seguinte diálogo: "Vou abrir o portão!", "Você não consegue, a fechadura está enferrujada", "Jogo 1d6 contra minha força vampírica", "Tirou 3, conseguiu abrir o portão!"

A questão é a seguinte: a literatura brasileira mainstream é muito rica e culta em sua forma; o esmero com o idioma é marca registrada dos autores nacionais mais importantes. Já os (sub-)gêneros fc, horror e fantasia, de uma maneira geral, dão mais ênfase no conteúdo, e acabam sendo desprezados por nossa elite cultural. É claro que há honrosas exceções (Ignácio de Loyola Brandão, com "Não Verás País Nenhum", André Carneiro) e casos semelhantes na literatura internacional (se o texto de Tolkien é refinado, Asimov é bastante básico), mas me parece que um maior cuidado com a forma seria muito produtivo para os autores nacionais, e para o gênero de uma maneira geral.

Antes que me critiquem: sei que é mais fácil dizer do que fazer. Minha novela publicada ("De Genes, Clones e Afins") é um exemplo de pouco cuidado com a forma. Meu português é até razoável :-) mas o texto é esquemático e pouco detalhado. Um amigo deu uma ótima definição: "Foi o melhor abstract de romance que eu já li". Mas com mais treino e leitura vai-se apurando a técnica - assim espero!

Para encerrar, apesar de todas as críticas, a história de Os Sete é muito bem construída. Para falar a verdade, terminei o livro louco para saber o que acontece depois (no livro "Sétimo"), mas acho que não vou comprar, não: vou procurar para baixar na rede.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Crítica da Apresentação: "Natura y Cultura"

Na última sexta-feira, dia 4 de dezembro, fui a Campinas para assistir a uma apresentação de um professor da Universidade de Barcelona - cujas áreas principais de estudo são a filosofia analítica, filosofia da ciência e lógica -, convidado por minha orientadora para falar sobre "Natureza e Cultura" com nosso grupo de Auto-Organização (como vou criticar bastante a apresentação, me reservo o direito de não dizer o nome do professor que, de maneira geral, foi extremamente simpático). Resumo, abaixo, sua apresentação:

A idéia básica é tratar o genoma e o cérebro como processadores de informação (o primeiro confiável, de longo prazo, o segundo mais contingente, em "tempo real"). "As coisas mais importantes estão no genoma", disse ao início o professor, inclusive ações como, por exemplo, o reconhecimento de faces: neste caso, o genoma cria um cérebro que já tem estruturas capazes de realizar a tarefa. Sob este ponto de vista, a Cultura é vista como um tipo de informação, presente no cérebro e cujas unidades menores (os memes, nomenclatura popularizada por Richard Dawkins no livro O Gene Egoísta) encontram-se codificadas nas conexões neuronais. Tal concepção permite a existência de uma Cultura Individual, definida como o conjunto dos memes codificados no cérebro de um ser humano x num instante t; da mesma forma, o que ele chama de Cultura de Grupo é definido como a união de todos os memes presentes em todos seres humanos x pertencentes a um grupo G num dado instante t. Mais ainda, pode-se definir a grandeza Cultura Unânime como a intersecção dos memes presentes em todos seres humanos x pertencentes a um grupo G num dado instante t; este conjunto, segundo o professor, é vazio para grupos grandes como por exemplo a população de um país.

Se você não é sociólogo, ou de áreas afins, pode não ter notado certos problemas com esta descrição; ela pode parecer até bastante atraente do ponto de vista operacional, já que é possível operar matemática e logicamente com conjuntos, por meio de regras bastante bem definidas. Mas há alguns problemas importantes aí. Se definirmos Cultura apenas como o conjunto dos conhecimentos presentes no cérebro dos indivíduos, deixamos de lado uma série de estruturas sociais, modos de armazenamento externos (livros, história oral, blogs, etc.) e relações sócio-político-econômicas que estão disponíveis aos membros de uma sociedade, mas não necessariamente se encontram completamente refletidos em suas conexões neuronais. Em outras palavras: Cultura é muito mais que a soma dos conhecimentos dos indivíduos. Eu nunca li "Dom Quixote", mas este texto pertence à minha cultura, o que me permite ler um conto de Borges sobre este livro e entender o significado de um adjetivo como "quixotesco" e de uma metáfora como "moinhos de vento".

O professor espanhol usa uma abordagem bastante ortodoxa, cartesiana, ao dividir o ente "cultura" em suas manifestações individuais (cultura individual) e mais ainda em suas menores partes (memes). Mas, faz realmente sentido pensar em uma cultura individual? Cultura não deveria ser algo definido em função das relações entre seres humanos? Faz sentido dizer que a cultura de um grupo não envolve suas práticas sociais, simbolismos, tradições que podem moldar comportamentos sem serem necessariamente expressas em codificações neuronais? E que dizer da tal cultura unânime, que seria um conjunto vazio em grandes populações? Nós brasileiros  - como de resto, qualquer participante conjunto de indivíduos que se auto-denomina "nação" - não temos, então, uma história, instituições político-sociais, idioma e o escambau em comum?

O que aconteceu nesta apresentação foi um caso de duplo colonialismo: em primeiro lugar, o professor, vindo da Europa, chegou em nossas terras tupiniquins imbuído do objetivo de doutrinar os pobres nativos: sua apresentação foi pobre, e ele não esperava que os subdesenvolvidos conhecessem algo dos assuntos por ele tratados.

Numa segunda dimensão, trata-se do colonialismo freqüente entre ciências exatas ou naturais, de um lado, e ciências humanas, de outro: muitos cientistas das áreas ditas "duras" acham que as ciências humanas estão buscando desesperadamente um método que as permita ser ciências "de verdade", seja via matematização, seja via biologização dos temas das humanidades. Ao tratar um tema tão central nas ciências humanas  como é a Cultura (totalmente central, cerne mesmo da antropologia e da sociologia) seria de se esperar, minimamente, que o professor ao menos citasse os autores e escolas de pensamento destas áreas (minto, ele citou Lévi-Strauss para dizer que ele estava errado, pois o tabu do incesto é encontrado em outros animais - sugiro leitura mais detalhada do autor-, e Freud para dizer que é religião).

Vou contar dois segredos, por favor, não espalhem: 1. Nós cucarachas não estamos desesperados por receber o conhecimento pronto gerado no Norte (ao contrário, cremos ter capacidade de contribuir como parceiros para a geração de novo conhecimento) e 2. Nós das humanidades não estamos deseperados por receber prontos os métodos das ciências naturais. É claro que as ciências humanas têm muito o que aprender e utilizar das ciências mais formais, como a física e a matemática, e devem fortalecer sua interação com as ciências biológicas (que apresentaram um crescimento muito grande no último meio século); isto não significa transplantar a matematização das primeiras ou se reduzir às últimas, situações que acabam sendo sempre aventadas e que, de resto, foram tentadas em alguns momentos, seja por pensadores das próprias humanidades, seja por "colonizadores externos".

Um exemplo de tentativa de "colonização" foi a Sociobiologia, proposta pelo entomologista norte-americano Edward O. Wilson. Esta teoria afirma que o comportamento humano pode ser estudado exclusivamente por uma abordagem evolutiva; hoje, a Sociobiologia está desacreditada, mas sua "filha", a Psicologia Evolucionária ainda dá frutos e aparece com mais destaque na mídia do que as abordagens puramente sociológicas ou antropológicas. Wilson, quando lançou sua teoria, acreditava estar auxiliando as ciências humanas, trazendo-lhes uma base biológica; o biólogo não entendeu quando vieram as duras críticas por parte das humanidades.

Ora, o fundamento das críticas era, simplesmente, o fato de que o tema das humanidades estava sendo reduzido aos parâmetros de outra ciência. Tal redução desconsidera por completo todo o desenvolvimento teórico e todo o pensamento social produzido não apenas nos últimos séculos (desde o surgimento de disciplinas específicas das humanidades) mas também de toda filosofia social que remonta até os pré-socráticos. A questão aqui foi o tratamento dado às questões antropossociais como mero apêndice do mundo natural, a ele considerado redutível, desconsiderando completamente a dimensão simbólica e cultural das sociedades humanas, bem como sua enorme diversidade. Quando se fala de primatas, há certamente pontos a serem discutidos em comum; porém, comparar "sociedades" de insetos a "sociedades" humanas é pura e simplesmente chamar duas coisas completamente diferentes pelo mesmo nome. É postura semelhante a dizer: pra falar sobre essas bobagens, falamos nós, cientistas "exatos", já que todo conhecimento se reduz ao "nosso" conhecimento.

Ao se tratar com o respeito devido os desenvolvimentos teóricos das humanidades, todos teríamos a ganhar. Enquanto o ser humano for concebido, pelas humanidades, como ser incorpóreo e etéreo vivendo num mundo puramente cultural ou, pelas ciências naturais, como ser cujo comportamento é ditado exclusivamente por seu genoma, ele não terá sido realmente concebido. Apenas quando conseguirmos entender o fenômeno humano como simultaneamente cultural, biológico e psicológico (não apenas como uma composição destes, mas percebendo que cada uma destas dimensões está "entrelaçada", "acavalada", "entranhada" nas demais, à moda de uma conjunção complexa "&") é que poderemos começar o tratamento mais correto das questões relativas ao comportamento humano, sem nos deixar levar pelo canto da sereia da redução de nossa complexidade a uma simplificação mutiladora a um desses termos.

domingo, 6 de dezembro de 2009

O Clube do Filme

David Gilmour foi crítico de cinema, apresentador de talk-shows na TV canadense e escritor. A certa altura de sua vida, com dificuldades de conseguir emprego e um filho de 15 anos sendo reprovado seguidamente no colégio, pai e filho fazem um pacto: Jesse poderia abandonar a escola, não precisaria trabalhar nem pagar aluguel, desde que se comprometesse a ver 3 filmes, escolhidos pelo pai, a cada semana. Se possível, conversariam depois sobre o filme e suas relações com a vida dos dois.

A história deste relacionamento está no livro O Clube do Filme, escrito pelo pai após quase três anos nesta experiência. Durante este tempo, o filho cresceu, passou por crises amorosas, usou drogas e... assistiu a filmes. O pai, David, se perguntou todo este tempo se havia tomado a decisão correta ou se estaria prejudicando irremediavelmente Jesse, retirando dele o que é considerado quase que universalmente o bem maior que se pode dar a um filho: a educação. A dúvida procede: é óbvio que boa parte dos "aborrescentes", se questionados quanto à escola, prefeririam ficar em casa, coçando suas partes não-públicas-mas-púbicas, vendo TV e navegando na internet (a bem da verdade, é provável que a maioria dos adultos também respondesse isso com relação a seus empregos...); entretanto, uma coisa é um garoto de 15 anos querer algo, outra completamente diferente é um adulto responsável por ele deixá-lo ter o que quer.

David foi ousado, e deixou seu filho em casa, com a esperança de que, no futuro, ele próprio retornaria à escola (o que efetivamente aconteceu). Outra decisão positiva do pai foi apresentar a Jesse filmes de todos os gêneros e qualidades: dramas, comédias, terror, desde cults europeus até a pior trasheira hollywoodiana. Isto permitiu que o filho se identificasse mais com as sessões, sem que estas se tornassem aulas em pele de DVD.

Mas se a filmografia e a relação pai-fillho são os pontos altos desse livro, há vários pontos-baixos. Muitos trechos parecem estar lá apenas para a auto-afirmação do autor, o qual, diga-se de passagem, acaba sendo o foco do livro ao invés do relacionamento entre ele e o filho; é a volta do velho narcisismo, tocado num post anterior. Não poucas vezes me peguei pensando: tá, mas não quero saber de você, quero saber dos filmes e dos papos que você teve com seu filho. Parece que até Jesse fica de saco cheio do pai depois de um tempo; um crítico mais ácido escreveu: "pra parar aquela chatura paterna vale tudo, até trabalhar como lavador de pratos ou, suprema desdita, voltar a estudar".

Além disso, em muitas passagens parece que o autor de 50 anos é mais "aborrescente" que seu filho adolescente. Quando Jesse perde uma namorada e chapa o coco até baixar hospital, o pai pensa: "Ele vai morrer disso!". Que é isso, rapaz? Parece que David nunca foi adolescente: nessa época, tudo é difícil, importante, fundamental mesmo, e qualquer revés na vida é o fim do mundo (tem um filme que não estava na filmografia de Gilmour, Donnie Darko, que traz uma fantástica metáfora do que é a adolescência; talvez o autor devesse vê-lo...). Não vai morrer não, vai só chapar mais ainda e depois passa.

Enfim, o livro tem altos e baixos. Vale a leitura, mas achei que seria melhor.

E... não, Gabriel, nem peça para montarmos nosso próprio Clube do Filme que não vai rolar...
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