sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Série: Lost

Eu tinha me prometido escrever sobre Lost somente depois de encerrada a série, para evitar os malfadados spoilers. Mas não deu para esperar; faltam 100 dias para Lost acabar e o início da 6a temporada só me fez confirmar a opinião de que esta é uma das melhores produções para a televisão já realizadas. Além de outros fatores (como a narrativa - geralmente - boa), creio que a ousadia dos produtores é em grande parte responsável pelo nosso fanatismo (fanatismo sim, a ponto de não conseguirmos esperar uma mísera semana para ver na AXN, TEMOS que baixar assim que sai nos EUA). Até para falar disso, já vou cair em spoilers; portanto, quem não está acompanhando a 6a temporada, pare aqui ou prossiga por sua própria conta e risco (Val, estou guardando os episódios para você, só leia o resto depois de vê-los).
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Bom, em primeiro lugar, o gênero. O suspense da 1a temporada foi dando lugar, paulatinamente, à ficção científica, passando por temas canônicos do gênero como a viagem no tempo e culminando agora com realidades paralelas. A estrutura narrativa reflete os temas abordados: inicialmente, tínhamos os flashbacks, construindo personalidades e relações prévias entre as personagens; no final da 3a temporada, recebemos o presente dos flashforwards, nos indicando o que aconteceria no pós-ilha e nos preparando para as viagens no tempo. Na 5a temporada, quando os saltos no tempo passam a acontecer, e o grupo se separa em "tempos" diferentes, os flashbacks são quase totalmente substituídos pelas narrativas assincrônicas - flashtimes. E agora, com a criação de um universo paralelo em que o avião não cai, temos o recurso dos flashsideways, passados em realidades diferentes em 2004 e 2007. Em resumo, a gente não se cansa com a narrativa, pois ela muda a cada mudança de estrutura do tema.

Ok, mas a forma não seria suficiente se o conteúdo não prestasse. E presta. E muito! É claro que houve certas irregularidades: a 3a temporada, com a greve dos roteiristas, me parece ter sido a mais prejudicada em seu início, mas nada que comprometesse. 

As viagens no tempo começaram a ser abordadas na 3a temporada (Season 3, Episode 07, s03e07 - Not in Portland). Sutilmente, com o personagem Aldo (que reaparece na s06 só pra tomar um balaço) lendo "Uma Breve História do Tempo", de Stephen Hawkings e depois, na Sala 23 (em que Karl está passando por uma lavagem cerebral a la Laranja Mecânica), onde uma voz gravada ao contrário diz "Only fools are enslaved by time and space": os tolos somos nós... Logo no episódio seguinte, s03e08 - Flashes Before Your Eyes (na minha lista de "Top 5 para entender Lost") Desmond "salta" no tempo, como seus amigos farão na 5a temporada. No final deste post, quando colocarei minha teoria sobre o que vai acontecer, volto a falar sobre este episódio, sobre o papel de Desmond e sobre o que a Sra. Hawking ensina para ele.

Mas foi em s04e05 - The Constant que o tema entrou de forma conclusiva na trama. Lembro de minha reação quando Faraday diz para Desmond encontrá-lo em Oxford em 1996 (De Volta para o Futuro???): gritei um PQP sozinho na sala, comemorando porque a série entrava de vez para o cânone da fc. Daí pros saltos no tempo foi um pulo (trocadilho péssimo). Confesso que até aí minha teoria era de um loop simples no tempo: eles chegaram na ilha e deveriam ficar nela, rodando no tempo até fazerem algo, talvez mudarem seu comportamento para alterar uma das variáveis da Equação de Valenzetti.

Digo que os produtores foram ousados porque não deveria ser fácil fazer os personagens saltarem no tempo (ainda mais, em grupos separados) sem que isso confundisse os telespectadores. Mas eles arriscaram, e construíram a narrativa de forma tão amarrada que as pessoas não se perderam (é claro que às vezes esquecíamos quem estava quando, mas no geral foi tranqüilo). A série tratou os fãs como gente grande. 

Vamos falar agora do que está pegando mesmo na série: universos paralelos. Li em algum lugar - mas não consegui encontrar o vídeo - que nos extras da 5a temporada há uma cena deletada de Faraday explicando o mecanismo de auto-correção do tempo, e sua idéia de explodir a bomba. Segundo a descrição, imagine o tempo como um filete de água correndo. Se você jogar uma semente neste riacho, o fluxo é perturbado muito levemente, mas volta rapidamente a correr da mesma maneira que antes. Agora, se você atirar uma pedra (ou uma bomba nuclear, hehe) você pode até repartir o filete em dois. Creio que foi isso que aconteceu, criando as realidades paralelas. Resta a pergunta: os dois "filetes d'água" irão se reencontrar? 

Construí minha teoria com base num post de meu amigo Shmoo no The Fuselage (Shmoo, me passa o  endereço do thread para eu postar aqui!! já está no link acima). Resumindo, em s03e03 - Further Instructions, Locke tem uma visão com os personagens no aeroporto de Sidney, prestes a embarcar. Desmond - que não estava no vôo, neste universo - estava vestido de piloto. Bem, por que piloto? Ora, ele deve guiar, de alguma maneira, os sobreviventes. E por que Desmond? Bem, em s03e08 - Flashes Before Your Eyes a Sra. Hawkings ensina a Desmond uma regra da viagem no tempo (para trás): não se pode mudar o presente mudando o passado. Segundo ela, o universo tem um mecanismo de "auto-correção", o que significa que mesmo que você mude algum fato no passado, este fato acontecerá, mesmo que de modo ligeiramente diferente. Foi o que vimos no final de toda esta temporada, com Desmond tentando salvar Charlie mas, finalmente, não conseguindo em s03e22 - Through the Looking Glass.

Ainda sobre o episódio de Desmond, podemos ver rapidamente as pedras - branca e preta - que representam a dualidade na ilha, Jacob e anti-Jacob (e que já tinham sido vistas antes no bolso de Adão e Eva, em s01e06 - The House of the Rising Sun, e nos olhos de Locke no sonho de Claire em s01e10 - Raised by Another), sobre uma mesinha na primeira volta no tempo de Desmond. Isto indica que ele tem papel fundamental neste balanço de poder, assim como Locke. Aliás, outro dia vi alguém citando as pedras no episódio de Desmond no fórum The Fuselage, mas eu tinha visto antes, anos atrás (quando a teoria é dos outros eu falo; como a descoberta foi minha, vou me gabar ;-) ). 

Mas tem o seguinte: como explicou Faraday (talvez no já citado s04e05 - The Constant, mas não consegui me lembrar nem descobrir a referência), Desmond é a única pessoa que é capaz de mudar o futuro! Foi o que ele conseguiu fazer neste episódio, mudando sua lembrança e guardando o número de telefone para ligar para Penny. Lembro que Faraday mudou de idéia em s05e14 - The Variable, achando que o livre arbítrio das pessoas - e uma bomba atômica - pode mudar o futuro, mas o que aconteceu, no final das constas, foi sua morte, que já estava programada (a mãe lembrava de ter atirado nele no passado). 

Vi no Fuselage muita gente reclamando dos flashsideways, dizendo que esta linha narrativa não interessa em nada, é só pra gastar tempo. Discordo. É muito difícil imaginar como as linhas narrativas paralelas (em 2004 e 2007) possam se juntar, mas levando em consideração o mecanismo de auto-correção do universo, creio que é exatamente isso que vai acontecer. Com ilha ou sem ilha (embaixo d'água), creio que os eventos das duas realidades irão convergir, os personagens estabelecerão novas relações (Kate e Claire já se aproximaram em s06e03 - What Kate Does) e, eventualmente, os fatos das duas linhas irão convergir para um mesmo resultado comum.

Renato Frigo, na Lista do CLFC, perguntou: "como a ilha afundou, o Widmore morreu naquela explosão e com isso não teremos na versão atual de 2007 o Widmore tentando entrar na ilha...n em a Penny existe mais... logo o Desmond estaria no avião porque?" Minha resposta, então, é: para "pilotar" os personagens deste universo alternativo de 2004, alterando seu futuro (ele é o único que pode!) e levando-os a uma situação semelhante aos seus alter-egos da ilha em 2007. 

Por que Desmond sumiu do avião, em s06e02 - LA X 2? Como os universos paralelos irão colapsar? Vamos saber em 100 dias.

9 comentários:

  1. http://forum.thefuselage.com/showthread.php?t=88273

    nesse thread eu chamo a atenção pro "sonho" de Locke, mas os caras alegam que foi circunstancial, não estrutural. nunca concordei, mas...

    ainda estou lendo o post. bbs.

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  2. Quando o Jack olha no espelho, no avião, me parece um sinal muito claro que os "Jacks", de alguma maneira, são um só. Essa previsão da convergência me parece muito, muito lúcida. Excelente previsão. Pode ser um spoiler do futuro.

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  3. O pessoal do fuselage é muito mal-comido. São as pessoas que criaram o IMAO (os americanos, né), confundem mau-humor com opinião, desprezo com superioridade e arrogância com atitude. Mas tem uns caras muito, muito legais mesmo, que até discutiram e discordaram, que eu vi que eram espertos demais pra serem os gordinhos virgens arrogantes - e realmente descobri mais tarde que eram caras de 50 anos e arredores.

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  4. Sabe o que se pode dizer sobre a ilha submersa? NADA. Ainda, é claro.

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  5. Dois momentos me deram uma certa "depressãozinha", porque eram o início do fim. A gente ficou 3 anos sem entender PORRA NENHUMA, e essa deriva, essa imprecisão, era uma coisa tão legal, que eu acho que responder isso - seja lá o que fosse - seria matar um pouco aquele bichinho fofo da total ignorância. No FBYE (s03e08) eu senti isso. Quando Faraday começou a falar, também. Era uma epifania melancólica.

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  6. Esses caras legais eu não consigo te passar agora os links, pq o fuselage tá em manutenção! Um deles tem um blog e publicou minha discussão com ele e uma mina meio Rita-Lee-muito-loca-hippie, sobre lost ser ou não a UFT da Metafísica. Ele disse que LOST é pós-moderno, e portanto nada metafísico, etc.

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  7. (é claro que às vezes esquecíamos quem estava quando, mas no geral foi tranqüilo)

    Cara, eu estava perdidíssimo, sempre que começava um episódio, e tenho quase certeza que a idéia era essa, de deixar a gente perdido como eles. Era muito, muito foda mesmo.

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  8. Cara, ainda não vi o s06e04, mas logo depois de postar esta mensagem, percebi um furo: se os universos vão colapsar, naturalmente, nnão há necessidade de Desmond mudar nada. A não ser que o destino dos dois universos seja a destruição, e, neste caso, os Desmonds deverão guiar os demais a salvar a situação (não me pergunte como Des voltaria à ilha...).
    Quanto à ilha submersa, é fácil: a explosão nuclear acelerou o aquecimento global HAHAHAHA

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