terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Os Sete


O mercado editorial brasileiro, apesar do crescimento recente, ainda é fraco em lançamentos no segmento conhecido por "Ficção Científica, Horror e Fantasia". Por esse motivo, fiquei bastante empolgado quando as listas de discussão e o fandom da área começaram a falar do escritor André Vianco, "o Stephen King de Osasco". Decidi dar minha contribuição e aproveitar para voltar a ler um livro de horror - há tempos li meu último Stephen King. Comprei Os Sete, romance sobre antigos vampiros portugueses que são encontrados presos dentro de uma caravela naufragada no litoral brasileiro.

A história é bem interessante, com uma boa divisão de linhas narrativas que voltam a se amarrar do meio para o fim do livro. A descrição das partes sanguinolentas também é bastante gráfica, e a idéia geral do livro se sustenta. Vianco é um contador de história imaginativo e seus vampiros (cada um com uma "habilidade" especial) funcionam como um time quase invencível.

Mas há um problema, na minha opinião, sério: o livro é muito mal escrito. Há alguns momentos em que parece que o autor é incapaz de usar orações subordinadas, coodenadas, ou apenas longas. Durante a leitura, eu chegava a rezar por um ponto-e-vírgula, um dois-pontos, um mero "e"... Parece bobagem, mas vá ler quase 400 páginas de: "Eles estavam no cais. O cais estava frio. O vento frio agitava seus cabelos. As ondas quebravam com força". Haja paciência! Depois de umas 20 páginas disso, a cada ponto final eu tinha um sobressalto.

O autor é um ótimo contador de histórias, mas talvez seja um cara que funciona melhor mestrando (ou mestreando) um RPG. Por exemplo, um vampiro vai tentar abrir um enorme portão enferrujado; inicialmente não consegue, então "o monstro usou sua força vampírica para abrir o portão". Quase posso me ver numa mesa de Vampiro: a Máscara, participando do seguinte diálogo: "Vou abrir o portão!", "Você não consegue, a fechadura está enferrujada", "Jogo 1d6 contra minha força vampírica", "Tirou 3, conseguiu abrir o portão!"

A questão é a seguinte: a literatura brasileira mainstream é muito rica e culta em sua forma; o esmero com o idioma é marca registrada dos autores nacionais mais importantes. Já os (sub-)gêneros fc, horror e fantasia, de uma maneira geral, dão mais ênfase no conteúdo, e acabam sendo desprezados por nossa elite cultural. É claro que há honrosas exceções (Ignácio de Loyola Brandão, com "Não Verás País Nenhum", André Carneiro) e casos semelhantes na literatura internacional (se o texto de Tolkien é refinado, Asimov é bastante básico), mas me parece que um maior cuidado com a forma seria muito produtivo para os autores nacionais, e para o gênero de uma maneira geral.

Antes que me critiquem: sei que é mais fácil dizer do que fazer. Minha novela publicada ("De Genes, Clones e Afins") é um exemplo de pouco cuidado com a forma. Meu português é até razoável :-) mas o texto é esquemático e pouco detalhado. Um amigo deu uma ótima definição: "Foi o melhor abstract de romance que eu já li". Mas com mais treino e leitura vai-se apurando a técnica - assim espero!

Para encerrar, apesar de todas as críticas, a história de Os Sete é muito bem construída. Para falar a verdade, terminei o livro louco para saber o que acontece depois (no livro "Sétimo"), mas acho que não vou comprar, não: vou procurar para baixar na rede.

2 comentários:

  1. Olá, meu querido! Até me surpreendi quando vi a capa desse livro aqui. É a primeira vez que vejo comentarem algum livro de André Vianco. Posso afirmar qualquer coisa sobre sua obra, pois li todos (todos mesmo!)os seus livros, desde as aventuras vampirescas até os livros com outras temáticas, como Sementes no Gelo e A Casa. E sabe? Eu concordo com você. E esse descuido com a forma que André Vianco apresenta é um dos motivos que nos faz ler seus livros com rapidez - pelo menos no meu caso! É um livro para jovens, e feito para se ter uma leitura fácil. Acredito que, na criação do hábito de leitura, deve existir os livros de intermediação entre a literatura infantil e a literatura adulta, pois esta última não depende só do prazer, mas de uma pitada de esforço. André Vianco pode ser usado enquanto instrumento para despertar o gosto da leitura. Assim, outros livros com construção mais complexa podem ser introduzidos para os jovens posteriormente.
    P.S.: Isso não é uma justificativa para o modo como ele escreve! rs!
    Beijos e parabéns pelo blog!

    ResponderExcluir
  2. Olá Márcio, eu vi seu comentário desse livro pelo Skoob e achei seu blog. Eu acabei de ler 'Os Sete' hoje e gostei muito do livro, exceto, é claro, da ortografia do André Vianco que eu concorco quando você diz que é pouco detalhada.
    Sétimo está na minha lista de próximas aquisições, mas acho que até lá também vou me arriscar e ler em pdf. rsrsrs
    Bjuss

    ResponderExcluir

Visit InfoServe for blogger backgrounds.